1. — Vivemos, pensamos e operamos, eis o que é positivo; e que morremos, não é menos certo.
2 Mas, deixando a Terra, para onde vamos? Que seremos após a morte? Estaremos melhor ou pior?
3 Existiremos ou não?
Ser ou
não ser, tal a alternativa. Para sempre ou para nunca mais; ou tudo ou nada: Viveremos eternamente, ou tudo se aniquilará de vez? É uma tese, essa, que se impõe.
4 Todo homem experimenta a necessidade de viver, de gozar, de amar e ser feliz.
5 Dizei ao moribundo que ele viverá ainda; que a sua hora é retardada; dizei-lhe sobretudo que será mais feliz do que porventura o tenha sido, e o seu coração rejubilará.
6 Mas, de que serviriam essas aspirações de felicidade, se um leve sopro pudesse dissipá-las?
7 Haverá algo de mais desesperador do que esse pensamento da destruição absoluta? Afeições caras, inteligência, progresso, saber laboriosamente adquiridos, tudo despedaçado, tudo perdido!
8 De nada nos serviria, portanto, quaisquer esforço no sofreamento das paixões, de fadigas para nos ilustrarmos, de devotamento à causa do progresso, desde que de tudo isso nada aproveitássemos, predominando o pensamento de que amanhã mesmo, talvez, de nada nos serviria tudo isso.
9 Se assim fora, a sorte do homem seria cem vezes pior que a do bruto, porque este vive inteiramente do presente na satisfação dos seus apetites materiais, sem aspiração para o futuro.
10 Diz-nos uma secreta intuição, porém, que isso não é possível.