Espíritos Ovóides – André Luiz
1. Monoideísmo e Reencarnação.
Ressurgir na própria taba e renascer na carne, cujas exalações lhe
magnetizam a alma, constituem aspiração incessante do selvagem
desencarnado. Estabelece-se nele o monoideísmo pelo qual os outros
desejos se lhe esmaecem no íntimo.
Pela oclusão de estímulos
outros, os órgãos do corpo espiritual se retraem ou se atrofiam, por
ausência de função, e se voltam, instintivamente, para a sede do governo
mental, onde se localizam, ocultos e definhados, no fulcro dos
pensamentos em circuito fechado sobre si mesmos, quais implementos
potenciais do germe vivo entre as paredes do ovo.
Em tais
circunstâncias, se o monoideísmo é somente reversível através da
reencarnação, a criatura humana desencarnada, mantida a justa distância,
lembra as bactérias que se transformam em esporos quando as condições
de meio se lhes apresentam inadequadas.
Tornando-se imóveis e
resistindo admiravelmente ao frio e ao calor, durante anos, para
regressarem ao ciclo de evolução que lhes é peculiar, tão logo se
identifiquem, de novo, em ambiente propício.
Sentindo-se em clima
adverso ao seu modo de ser, o homem primitivo, desenfaixado do
envoltório físico, recusa-se ao movimento na esfera extrafísica,
submergindo-se lentamente, na atrofia das células que lhe tecem o corpo
espiritual, por monoideísmo auto-hipnotizante, provocado pelo pensamento
fixo-depressivo que lhe define o anseio de retorno ao abrigo
fisiológico.
Nesse período, afirmamos habitualmente que o
desencarnado perdeu o seu corpo espiritual, transubstanciando-se num
corpo ovóide, o que ocorre, aliás, a inúmeros desencarnados outros, em
situação de desequilíbrio.
Cabe-nos notar que essa forma, segundo
a nossa maneira atual de percepção, expressa o corpo mental da
individualidade, a encerrar consigo, conforme os princípios
ontogenéticos da Criação Divina, todos os órgãos virtuais de
exteriorização da alma, nos círculos terrestres e espirituais.
Assim como o ovo, aparentemente simples, guarda hoje a ave poderosa de
amanhã, ou como a semente minúscula, que conserva nos tecidos
embrionários a árvore vigorosa em que se transformará no porvir.
2. Forma Carnal
Todavia, assim como o germe para desenvolver-se no ovo precisa
aquecer-se ao calor da ave que o acolha maternalmente ou do ambiente
térmico apropriado, no recinto da chocadeira e a semente, para liberar
os princípios germinativos do vegetal gigantesco em que se converterá,
não prescinde do berço tépido no solo.
Os Espíritos
desencarnados, sequiosos de reintegração no mundo físico, necessitam do
vaso genésico da mulher que com eles se harmoniza, nas linhas da
afinidade.
Conseqüentemente, da herança, vaso esse a que se
aglutinam, mecanicamente, e onde, conforme as leis da reencarnação,
operam em alguns dias todas as ocorrências de sua evolução nos reinos
inferiores da Natureza.
Assimilando recursos orgânicos com o
auxílio da célula feminina, fecundada e fundamentalmente marcada pelo
gene paterno, a mente elabora, por si mesma, novo veículo
fisiopsicossomático.
Atraindo para os seus moldes ocultos as
células físicas a se reproduzirem por cariocinese, de conformidade com a
orientação que lhes é imposta, isto é, refletindo as condições em que
ela, a mente desencarnada, se encontra.
Plasma-se lhe, desse
modo, com a nova forma carnal, novo veículo ao Espírito, que se refaz ou
se reconstitui em formação recente, entretecido de células sutis,
veículo este que evoluirá igualmente depois do berço e que persistirá
depois do túmulo.
3. Desencarnação Natural
Por milênios
consecutivos o homem ensaia a desencarnação natural, progredindo
vagarosamente em graus de consciência, após a decomposição do corpo
somático.
Recordando as anteriores comparações com o domínio dos
insetos, a matriz uterina oferece-lhe novas formas e, assim como a larva
se alimenta, assegurando a esperada metamorfose, a alma avança em
experiência, enquanto no corpo carnal, adquirindo méritos ou deméritos,
segundo a própria conduta.
Entregando-se em seguida, no fenômeno
da morte ou histólise do invólucro de matéria física, à pausa
imprescindível nas próprias atividades ou hiato de refazimento, que pode
ser longo ou rápido, para ressurgir, pela histogênese espiritual,
senhoreando novos órgãos e implementos necessários aos seu novo campo de
ação, demorando-se nele, à medida dos conhecimentos conquistados na
romagem humana.
É assim que a consciência nascente do homem
pratica as lições da vida, no plano espiritual, pela desencarnação ou
libertação da alma, como praticou essas mesmas lições da vida no plano
físico, pelo renascimento ou internação do elemento espiritual na
matéria densa, evoluindo, degrau a degrau, desde a excitabilidade
rudimentar das bactérias até o automatismo perfeito dos animais
superiores em que se baseia o domínio da inteligência.
4. Parasitas Ovóides
Inúmeros infelizes, obstinados na idéia de fazerem justiça pelas
próprias mãos ou confiados a vicioso apego, quando desafivelados do
carro físico, envolvem sutilmente aqueles que se lhes fazem objeto da
calculada atenção e, auto-hipnotizados por imagens de afetividade ou
desforço, infinitamente repetidas por eles próprios, acabam em
deplorável fixação monoideística
Fora das noções de espaço e
tempo, acusando, passo a passo, enormes transformações na morfologia do
veículo espiritual, porquanto, de órgãos psicossomáticos retraídos, por
falta de função, assemelham-se a ovóides, vinculados às próprias vítimas
que, de modo geral, lhes aceitam, mecanicamente, a influenciação, à
face dos pensamentos de remorso ou arrependimento tardio, ódio voraz ou
egoísmo exigente que alimentam no próprio cérebro, através de ondas
mentais incessantes.
Nessas condições, o obsessor ou parasita
espiritual pode ser comparado, de certo modo, à Sacculina carcini, que,
provida de órgãos perfeitamente diferenciados na fase de vida livre,
enraíza-se, depois, nos tecidos do crustáceo hospedador, perdendo as
características morfológicas primitivas, para converter-se em massa
celular parasitária.
No tocante à criatura humana, o obsessor
passa a viver no clima pessoal da vítima, em perfeita simbiose mórbida,
absorvendo-lhe as forças psíquicas, situação essa que, em muitos casos,
se prolonga para além da morte física do hospedeiro, conforme a natureza
e a extensão dos compromissos morais entre credor e devedor.
5. Parasitismo e Reencarnação
Nas ocorrências dessa ordem, quando a decomposição da vestimenta carnal
não basta para consumar o resgate preciso, vítima e verdugo se
equiparam na mesma gama de sentimentos e pensamentos, caindo,
além-túmulo, em dolorosos painéis infernais, até que a Misericórdia
Divina, por seus agentes vigilantes, após estudo minucioso dos crimes
cometidos, pesando atenuantes e agravantes, promove a reencarnação
daquele Espírito que, em primeiro lugar, mereça tal recurso.
E,
executado o projeto de retorno do beneficiário, a regressar do Plano
Espiritual para o Plano Terrestre, sofre a mulher, indicada por seus
débitos à gravidez respectiva, o assédio de forças obscuras que, em
muitas ocasiões, se lhe implantam no vaso genésico por simbiontes que
influenciam o feto em gestação.
Estabelecendo-se, desde essa hora
inicial da nova existência, ligações fluídicas através dos tecidos do
corpo em formação, pelas quais a entidade reencarnante, a partir da
infância, continua enlaçada ao companheiro ou aos companheiros menos
felizes, que integram com ela toda uma equipe de almas culpadas em
reajuste.
Desenvolve-se lhe, então, a meninice, cresce,
reinstrui-se e retorna à juvenilidade das energias físicas, padecendo,
porém, a influência constante dos assediantes.
Até que,
frequentemente por intermédio de uniões conjugais, em que a provação
emoldura o amor, ou em circunstâncias difíceis do destino, lhes ofereça
novo corpo na Terra, para que, como filhos de seu sangue e de seu
coração, lhes devolva em moeda de renúncia os bens que lhes deve, desde o
passado próximo ou remoto.
Em tais fatos, vamos anotar situações
quase idênticas às que são provocadas pelos parasitas heteroxênicos,
porquanto, se os adversários do Espírito reencarnado são em maior
número, atuam, muitos deles, à feição dos tripanossomas.
Que
tomando os filhos de suas vítimas e afins deles próprios, por
hospedeiros intermediários das formas-pensamentos deploráveis que
arremessam de si, alcançando em seguida, a mente dos pais ou hospedeiros
definitivos, a inocular-lhes perigosos fluidos sutis, com que lhes
infernizam as almas, muitas vezes até à ocasião da própria morte.
Do livro “Evolução em dois mundos” - André Luiz