O
espiritismo é um conjunto de práticas, princípios e doutrinas que
consideram o ser humano um ser imortal que alterna vivências e
experiências no mundo material e no espiritual. Os seguidores do
espiritismo acreditam na comunicação entre os vivos e os mortos e na
doutrina da reencarnação.
A
reencarnação é pregada e aceita por religiões como o jainismo, o
budismo, o hinduísmo e algumas correntes do cristianismo. Muitos
acreditam que os mortos reencarnam com o propósito de evoluir
espiritualmente.
Povos
da antiguidade como celtas e gregos costumavam “consultar” os mortos.
Há, inclusive, uma passagem na obra de Homero em que o herói Ulisses
consulta a alma de sua mãe.
O
termo espiritismo é um neologismo criado pelo francês Hippolyte Léon
Denizard Rivail (1 804-1 869), mais conhecido como Allan Kardec.
Segundo
consta, Hippolyte Rivail começou a frequentar as reuniões espíritas por
curiosidade. Mas em uma delas, um médium disse que ele foi um celta
chamado Allan Kardec e que deveria reunir os ensinamentos e conclusões
dos últimos séculos numa doutrina que propagasse as ideias de Cristo e
trouxesse alívio para a humanidade. O evento mudou para sempre sua vida,
levando-o a reunir os ensinamentos espíritas no Livro dos Espíritos.
O
pedagogo e escritor Hippolyte Rivail adotou o pseudônimo de Allan
Kardec também com o objetivo de diferenciar suas obras espíritas de seus
trabalhos pedagógicos.
Allan Kardec afirmava que não escrevia livros espíritas, ele apenas “os codificava”.
Os
princípios do espiritismo foram reunidos por Allan Kardec em cinco
obras: O Livro dos Espíritos (de 1 857), O Livro dos Médiuns (1 859), O
Evangelho Segundo o Espiritismo (1 863), O Céu e o Inferno (1 865) e A
Gênese (1 868).
O
fato é que Hippolyte Rivail escreveu livros de aritmética e gramática,
além de programas de cursos de física, química, medicina e até
astronomia.
O Livro dos Espíritos foi publicado por Allan Kardec pela primeira vez na França em 18 de abril de 1 857.
Allan Kardec consultou cerca de 10 médiuns para escrever e revisar O Livro dos Espíritos.
Os seguidores da doutrina revelada por Allan Kardec são chamados de kardecistas.
O
túmulo de Allan Kardec é um dos mais visitados do cemitério Père
Lachaise, em Paris. O Père Lachaise é famoso pela quantidade de
celebridades sepultadas: Fredéric Chopin, Maria Callas, Edith Piaf,
Marcel Proust, Amedeo Modigliani, Sarah Bernhardt, Oscar Wilde, Honoré
de Balzac, Jim Morrison… A maior parte dos turistas que visita o túmulo
de Kardec é brasileira.
O
espiritismo nega o dogma da divindade de Jesus e aceita o seu caráter
humano, o que tem provocado uma longa rejeição da parte de muitos
cristãos, além de um severo atrito com a igreja católica. Livros
espíritas chegaram a ser queimados em praça pública.
O
espiritismo chegou ao Brasil em 1 860, sofrendo desde já grande
preconceito. Só para se ter uma ideia, o Código Penal de 1 890
classificava-o como crime. Os primeiros centros espíritas surgiram
apenas em 1 865.
Existe
no Brasil uma cidade fundada exclusivamente por espíritas (ela cresceu a
partir de um centro espírita). É a cidade de Palmelo, no estado de
Goiás, a 58 quilômetros de Goiânia e com população atual de 2 500
habitantes.
Apesar
da pátria-mãe do espiritismo ser a França, é no Brasil que a doutrina
tem o maior número de adeptos. São 2,5 milhões de seguidores e outros
milhões de simpatizantes.
Um
dos maiores divulgadores da doutrina espírita no Brasil foi o médico,
militar, escritor, jornalista e político Bezerra de Menezes, que começou
a divulgar o Espiritismo pouco tempo depois da publicação da obra de
Allan Kardec em português.
O
mais famosos médium do Brasil foi Francisco Cândido Xavier, nascido em
Uberaba (MG) em 2 de abril de 1 910 e falecido (“desencarnado”, para os
espíritas) em 30 de junho de 2 002. A mediunidade de Chico começou a se
manifestar quando ele tinha apenas quatro anos de idade.
A
mãe de Chico Xavier faleceu quando ele era um garoto de cinco anos.
Pouco tempo após a morte, ele começou a “se comunicar” com o espírito da
mãe. Foi uma época de sofrimento para o menino Chico, que estava sendo
criado pela madrinha, que o castigava muito.
Com
o novo casamento do pai, Chico e seus oito irmãos (que foram separados
depois da morte da mãe) voltaram a morar juntos. A madrasta se
prontificou a cuidar deles e Chico voltou a estudar.
A
mediunidade trouxe sérios problemas para o jovem Chico. Ele virou
motivo de acusações e chacotas na escola. Seu pai cogitou em interná-lo.
Francisco
iniciou os estudos do espiritismo aos 17 anos de idade. Segundo seus
biógrafos, o espírito da mãe o teria aconselhado a ler a obra de Allan
Kardec. Na mesma época, iniciou-se na prática da psicografia.
O primeiro contato com o espírito Emmanuel ocorreu em 1 931, quando Chico era um jovem de 21 anos.
Alguns
pesquisadores acreditam que o espírito André Luiz é o médico e
sanitarista Carlos Chagas, descobridor da doença de Chagas e morto aos
55 anos, vítima de infarto. Há quem acredite, porém, que André Luiz seja
o neurologista Faustino Esposel, falecido com 43 anos.
Em
1 932, então com 22 anos, Chico Xavier lançou o livro Parnaso de
Além-Túmulo, com poemas “psicografados” de grandes nomes da poesia
brasileira. A primeira edição trazia apenas 60 poemas, que foram
aumentando ao longo do tempo. Com a última edição, a quantidade de
poemas saltou para 259.
Um
dos autores brasileiros psicografados por Chico Xavier foi Humberto de
Campos. Foram 12 obras de contos e crônicas escritas em nome do escritor
maranhense. O curioso é que a família de Humberto de Campos entrou com
um processo contra a Federação Espírita Brasileira reivindicando
direitos autorais das obras.
Em
1 958, um sobrinho de Chico Xavier chamado Amauri Pena acusou o tio de
charlatanismo. Ele mesmo, que afirmava ter mediunidade, negou ser um
médium e tentou atingir diretamente Chico Xavier. Arrependido e com
sérios problemas com o álcool, Amauri foi internado num hospital
psiquiátrico em São Paulo, onde faleceu.
A obra mais vendida de Chico Xavier é o livro Nosso Lar, com mais de 1 milhão de exemplares.
Chico
Xavier é um dos brasileiros mais traduzidos no exterior. Seus livros
foram vertidos para mais de 50 idiomas, como inglês, francês, espanhol,
alemão, árabe e até esperanto.
Chico
Xavier teve, ao longo do tempo, diversos problemas de saúde: catarata,
labirintite, hérnia de disco, angina e problemas de próstata. Mesmo
assim, manteve-se na ativa durante toda a vida.
Chico
Xavier recebeu mais de 100 títulos de cidadania ao longo da vida.
Também foi eleito cidadão de Uberaba e escolhido um dos principais
cidadãos mineiros do século XX.
Chico
dizia que queria morrer em um dia “em que o Brasil estivesse” feliz.
Pois foi justamente o que aconteceu. Chico Xavier “desencarnou” no dia
30 de junho de 2 002, quando o Brasil se consagrava campeão mundial pela
Copa do Mundo da Coréia do Sul/Japão.
A produção Chico Xavier, o Filme estreou no dia em que Chico, se estivesse vivo, completaria 100 anos.
O
filme Nosso Lar foi a produção mais cara do cinema brasileiro, com
orçamento de R$ 20 milhões. Só na primeira semana de exibição, Nosso Lar
foi visto por mais de 1 milhão de pessoas.
Segundo
a FEB, Chico Xavier escreveu (ou psicografou, para os adeptos do
espiritismo), mais de 400 livros e arrecadou R$ 300 milhões com suas
obras. Chico, porém, não recebeu praticamente nada de direitos autorais.
O dinheiro foi usado em obras de caridade.
Um
dos escritores espíritas que maior sucesso atualmente é a paulista
Zíbia Gasparetto, autoras dos clássicos O Amor Venceu e Laços Eternos.
Só Laços Eternos vendeu cerca de 1 milhão de exemplares
Zíbia
Gasparetto é mãe do famoso médium e também Luiz Antônio Gasparetto.
Luiz Antônio é conhecido por “incorporar” artistas plásticos famosos e
pintar quadros atruibuídos a eles. Entre os pintores que ele afirma
incorporar estão Picasso, Modigliani, Renoir, Rembrandt e Monet.
As
cirurgias espirituais são muito populares no Brasil. Um dos mais
famosos médiuns cirurgiões foi o mineiro José Pedro de Freitas (1 822-1
971), mais conhecido como Zé Arigó. O espírito que ele afirmava
incorporar era o do médico alemão Aldolph Fritz, supostamente morto na
época da I Guerra Mundial.
Zé
Arigó chegava a receber por volta de 200 pessoas por dia na clínica que
fundou na cidade de Congonhas, em Minas Gerais. Grande parte desses
“pacientes” afirmaram ter sido curados por Arigó.
Acusado
de curandeirismo pela Associação Médica de Minas Gerais, Arigó foi
condenado a 15 meses de prisão. Graças a um indulto recebido do
ex-presidente Juscelino Kubistcheck, o médium sequer chegou a ser preso.
Assim
como muitos médiuns que realizam as chamadas cirurgias espirituais, Zé
Arigó utilizava bisturis, canivetes e outros utensílios e operava as
pessoas que recebia sem a utilização de anestesia.
Zé
Arigó não foi o único a “receber” o suposto espírito de Dr. Fritz.
Vários médiuns afirmaram incorporar o médico alemão, entre os quais
Edivaldo Wilde, Maurício Magalhães, Rubens Farias Júnior e Edson
Queiroz.
Realizados
por médiuns, os tratamentos espirituais não são feitos apenas com
bisturi e outros instrumentos cortantes. Existem, na verdade, diversos
tipos de tratamento: por passes, com “água fluidificada” (segundo a
crença, é água com depósito de fluidos espirituais benéficos), apometria
(através do qual, afirmam seus adeptos, a pessoa é tratada no mundo
espiritual) e homeopatia. Os mais populares são os passes e o
receituário homeopático.
O
passe consiste na imposição das mãos feitas pelo médium. Na crença
espírita, o passista (a pessoa que faz a imposição) teria o poder de
canalizar “fluidos” ou “energias” benéficos para o recebedor.
O
termo espiritismo foi amplamente adotado por umbandistas e praticantes
de outras religiões afro-brasileiras. A própria Federação Espírita
Brasileira chegou a declarar que os umbandistas realmente são espíritas.
De
fato, existem mais semelhanças do que diferenças entre a doutrina
espírita e o umbandismo. São elas: a comunicação dos mortos com os
vivos, a evolução do espírito através da reencarnação e a prática da
caridade.
Convertido
ao espiritismo, o escritor Arthur Conan Doyle dedicou os últimos anos
de sua vida à religião. Além de escrever em defesa da doutrina espírita,
Conan Doyle dava palestras sobre o assunto. A conversão do criador de
Sherlock Holmes foi motivada pela perda traumática de um parente
querido.
Victor
Hugo conheceu o espiritismo na década de 1 850. O escritor e poeta
francês participou de sessões espíritas em que eram recebidas mensagens
de pessoas famosas e personalidades da cultura como Moliére e
Shakespeare. Mais tarde, Hugo escreveria o livro Conversando com a
Eternidade, em que relata seu conhecimento e suas experiências no
espiritismo.
Ao
perder a filha e a neta ainda muito jovens, Tarsila do Amaral, um ícone
do modernismo brasileiro, foi buscar amparo no espiritismo. A dor e a
depressão causadas pela morte de ambas só foram vencidas graças ao apoio
e as palavras de conforto do médium Chico Xavier.
A
cantora Edith Piaf, eterno mito da música francesa, também se tornou
adepta do espiritismo pelo mesmo motivo: a perda de uma pessoa querida.
Os seguidores do espiritismo acreditam em vida fora da Terra, especialmente em outros planetas.
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