Em O Livro Dos Espíritos poderemos encontrar uma resposta mais confiável e racional para responder a inquietante questão: Deus castiga? Temos que compreender o significado do termo castigo para os espíritos superiores e sobre a ação de Deus em nossas vidas e no universo. Não adiantará procurarmos o significado da palavra castigo no dicionário ou em visões estranhas a concepção espirita. Os filósofos tampouco nos ajudarão, pois, não se trata de um jogo de pensamentos, mas em informações originadas do mundo dos espíritos, que é o local onde grande parte das consequências de nossas atitudes se desenvolverá, sabedores que somos que a lei humana não pode alcançar todas as nossas faltas.
Questão 680 de O Livro Dos Espíritos
Não há homens que se encontram impossibilitados de trabalhar no que quer que seja e cuja existência é, portanto, inútil?
"Deus é justo e, pois, só condena aquele que voluntariamente tornou
inutil a sua existência, porquanto se vive a expensas do trabalho dos
outros. Ele quer que cada um seja útil de acordo com as suas faculdades"
Percebemos da resposta 680 que a correção de uma falta leva em
consideração o grau evolutivo de cada espirito, suas possibilidades, não
sendo um mecanismo automático. Não é a condenação de um espírito um ato
de vingança, mas decorre de uma necessidade de corrigir um erro. Esta
correção tem relação com a necessidade do espírito, não é apenas uma
satisfação dada por Deus aos que sofreram.
Sempre é levado em
consideração o grau evolutivo porque a correção do erro a que o espírito
é submetido tem por finalidade sua evolução, nunca sendo um ato de
vinganças ou um simples pagamento de dívidas. Usarei um exemplo para que
melhor possamos entender a questão.
Se um homem rouba outro homem,
temos sempre um erro. Percebemos, entretanto, que se alguém rouba para
alimentar seu filho, então, é menos condenável que aquele que rouba para
satisfazer um desejo fútil, comprar um carro esportivo, por exemplo. Em
ambos os casos, existe o erro, mas não se pode julgar com a mesma
severidade as duas situações.
Questão 258 de O Livro Dos Espíritos
Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o
Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida
terrena?
" ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste seu livre arbítrio."
A) Não é Deus, então, quem lhe impõe às atribulações da vida como castigo?.
" Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus quem
estabeleceu todas as leis que regem o universo. Ide agora perguntar por
que decretou Ele esta lei e não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de
escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das
consequências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro, abertos se
lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal. Se vier a sucumbir,
restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe acabou e que a Bondade
divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi malfeito. Ademais,
cumpre se distinga o que é obra da vontade de Deus do que o é da
vontade do homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós quem o criou e
sim Deus. Vosso, porém, foi o desejo de a ele vos expordes visto nisso
um meio de progredirdes, e Deus o permitiu"
Do exposto percebemos que as leis de Deus preveem castigos para toda falta. Os espíritos declaram que Deus fez as leis da forma que estas leis são e, se quisermos saber, por que não fez Deus leis diferentes, deveremos perguntar ao próprio Deus. Poderiam as leis não determinar punições para nossas faltas? Bem, se Deus as fizesse dessa forma, certamente, poderia não haver nenhuma consequência dos atos que praticamos e não existiria o carma. O que fosse feito de errado em uma encarnação não traria nenhuma consequência para as próximas encarnações, mas não foi assim que Deus desejou.
Teremos que reparar o erro cometido, somos livres e esta liberdade abre possibilidades para o erro. Não somos livres, porém, para não reparar o erro. Um exemplo nos fará entender. Um homem é livre para chutar uma parede, mas não é livre para não sentir a dor corrente do chute. Somos livres para semear, mas a colheita é obrigatória. A bondade de Deus nos permite corrigir o mal realizado. Na doutrina espírita não existe o inferno, pois, se o inferno existisse, representaria a impossibilidade de se corrigir o erro. O inferno é um lugar de sofrimento, não de correção. A ideia do inferno como lugar de sofrimentos eternos não é aceito pelo Espiritismo.
Vamos a outra consideração. Na literatura espirita, nos romances por exemplo. Lemos que um crime cometido em uma encarnação será pago em outra encarnação, quando não houve a possibilidade de ser corrigido na existência em que foi praticado. Nem sempre a correção será na próxima encarnação. É comum passarem-se várias encarnações, para somente então, haver a correção. Tal ocorre porque será nesta encarnação que o espírito estará em condições de aproveitar o aprendizado que virá de sua punição. Se assassinei alguém, posso vir a ter morte violenta alguma encarnações depois, digamos, quinhentos anos depois. Observem que não preciso ser assassinado, mas ter morte violenta. A lei não exige um assassino para matar o homem que cometeu assassinato em encarnação anterior.
O castigo é a punição para a infração cometida. Não se trata de "pagar" uma dívida anterior, pois, sendo assassinado não pagarei nada a ninguém, mas será um evento emocional importante para dar ao que assassinou, a real dimensão de ser assassinado. Nem tudo o espírito aprende intelectualmente, muitos tipos de aprendizado são feitos na prática. Se roubei, menti, trai ou matei, não significa que terei que ser roubado, traído ou morto no futuro. Nem sempre será necessário este evento, pois, posso beneficiar aquele que prejudiquei através do amor. Poderei, por exemplo, receber a quem assassinei como meu filho em futura existência. Pagarei com amor o mal que lhe fiz. Se, entretanto, persisto no erro, poderei a sofrer as consequências de meus atos, consequências com papel educativo, para meu próprio benefício, mas que não deixam de ser um castigo para as faltas cometidas.
Cada espírito aprende a se corrigir de acordo com suas disposições íntimas. Alguns pelo amor, outros pela dor. A consciência aceita o castigo ( correção), mas não é o próprio espírito que providência o castigo, mas Deus que o faz. Não temos competência para criar as condições necessárias envolvidas na correção de nossas faltas. Poderemos agir com muita severidade para conosco ou com muita leniência. O espírito não julga a si mesmo, Deus é que julga em última instância. Podemos, é claro, opinar sobre o tipo de correção que será imposta a nós mesmos ou mesmo reivindicar a nossa correção, mas não temos autonomia absoluta sobre o que nos sucederá. Na resposta dos espíritos temos "se um perigo vos ameaça, não fostes vos que o criastes e sim Deus. Vosso, porém, foi o desejo ( a consciência) de a ele vos expordes, por haverdes visto nisso um meio de progredirdes, e Deus o permitiu." Novamente percebemos que o castigo é um mecanismo para possibilitar a evolução do espírito infrator da lei, não um capricho de Deus.
É o castigo um fato semelhante a um procedimento cirúrgico doloroso em que o doente sofre no pós-operatório, mas em seu próprio benefício. Foi o cirurgião que o operou, mas não por capricho, mas por absoluta necessidade. O doente consentiu por entender ser este o melhor procedimento. Não é a cirurgia uma espécie de castigo ou é um prêmio dado aos doentes? É com prazer que alguém se submeta a uma cirurgia ou é, antes de tudo, uma necessidade? Existem situações em que o paciente chega na emergência médica com risco de morte e o cirurgião irá operá-lo sem o seu consentimento, mas em benefício do paciente. Tal é a situação dos espíritos mais atrasados e que não se dispõe a corrigir o erro, o castigo poderá ser imposto aos mesmos, mas sempre no interesse dos mesmos, sem atender-lhes o capricho ou a vontade mal orientada.
Concluímos que Deus castiga, mas o castigo significa um meio de corrigir o mal praticado. O castigo está na razão direta da consciência que o espírito tem do erro cometido e do benefício que o castigo trará ao espírito. Se você acredita que castigo é uma vingança ou um capricho de Deus, então, você não entendeu a definição que os espíritos superiores tem do castigo e da real finalidade do castigo. Muitos acreditam que o espírito julga a si mesmo no tribunal da consciência e concluem que possuem total autonomia sobre suas vidas e todas as consequências decorrentes de suas faltas. Acreditam que espíritos atrasados ou relativamente atrasados possuem a sabedoria, a iluminação espiritual suficiente para sozinhos julgarem a si mesmos e darem a sentença adequada, nada mais restando a Deus que observar seus filhos inexperientes cuidando sozinhos de seu próprio futuro.
A palavra castigo, condenação e punição aparece inúmeras vezes no O Evangelho Segundo O Espiritismo, no livro O Céu E O Inferno, em O Livro Dos Espíritos. É necessário entender o significado dessa palavras no contexto da codificação. As pessoas discutem e ficam indignadas quando leem estas palavras, porque não compreendem o significado que os espíritos dão a estes termos. Castigo é um conjunto de medidas desagradáveis, mas necessárias à evolução do espírito. Castigo é um meio de aprendizado, não um meio de vingar-se. É um recurso pedagógico adequado ao grau de entendimento do aluno cuja lição necessita aprender. O castigo não é uma satisfação que Deus presta à vítima ( que pode ter sofrido devido a seu carma ou necessidade de aprendizado) e sim um recurso para que o espírito aprenda a se adequar às leis de amor e justiça, leis criadas por Deus em benefício de todos os espíritos.
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