Certa vez, eu, Sr. Rubens e mais dois amigos, encontrávamos-nos em frente do Kardec conversando sobre assuntos diversos. A reunião pública do domingo havia terminado e todas os frequentadores já tinham se ausentado.
Estávamos nos despedindo quando um carro em alta velocidade parou e dois jovens que estavam na frente do veículo desceram assustados, pedindo socorro ao amigo que estava deitado no banco de trás. Paulo (nome fictício) apresentava todas as características de forte embriaguez. Não conseguia sequer articular palavras e quando tentava eram ininteligíveis.
Seus amigos nos informaram que ele viera de São Paulo passar o feriado prolongado daquela semana em Rio Preto e que, de repente, ficara embriagado. Que Paulo, em desespero e com muita dificuldade, havia lhes dito para procurar um Centro Espírita. E lá estavam buscando socorro.
Sr. Rubens pediu aos rapazes que o carregassem (sim, porque Paulo não conseguia ficar em pé e andar) até à sala de passes para o atendimento. Foi penoso ver aquele jovem naquela situação. Seus amigos quase não conseguiram retirá-lo do assento de trás do carro, pois Paulo não conseguia levantar-se sozinho e se encontrava quase sem consciência.
Nesse momento eu perguntei ao Sr. Rubens se poderíamos acompanhá-los a fim de colaborarmos nos passes. Sr. Rubens agradeceu e disse que cuidaria sozinho do caso.
Desceram, então, Sr. Rubens, Paulo e seus dois amigos carregando Paulo até a sala de passes.
Eu e os demais trabalhadores continuamos à frente do Kardec aguardando o desfecho bem como a postos para qualquer ajuda ao caso.
Dez minutos se passaram….. Após o afastamento temporário da entidade, Paulo e Sr. Rubens aparecem conversando descontraidamente como se nada houvera acontecido. Surpreendeu-me o novo estado do jovem. Apresentava-se, agora, como todos nós, sem apresentar qualquer sintoma de embriaguez. Articulava perfeitamente as palavras com total lucidez e explicava seu caso.
Estava sendo atendido por uma casa espírita de São Paulo. O Espírito que o assediava era alcoólatra e todas as vezes que se ligava mais fortemente a ele, médium natural, apresentava todos os sintomas da embriaguez. Não conseguia, ainda, dominar a ação do obsessor.
Sr. Rubens, então, orientou-o e, dentre outras recomendações, disse que ele não podia em hipótese alguma ingerir bebida alcoólica.
Nesse momento os dois jovens que o acompanhavam disseram que ele havia tomado apenas meio copo de cerveja quando caiu no chão e apresentou aquele quadro.
Mas Paulo não podia ingerir qualquer quantidade de álcool, mesmo que diminuta, um gole sequer, pois imediatamente estabelecia a sintonia com a entidade espiritual. O álcool funcionava como uma espécie de “gatilho” para a ação da entidade.
Os jovens se despediram agradecendo a ajuda e foram embora alegres e aliviados.
Até aquele momento eu não havia presenciado algo parecido. Sabia, através de relatos, que os médiuns umbandistas, sob ação de algumas entidades, bebiam garrafas inteiras de pinga e quando saíam do transe nada sentiam. Era como se tivessem ingerido água.
No caso de Paulo, ocorria o inverso. Mesmo sem ingerir álcool ele “ficava embriagado” porque o espírito que o assediava era alcoólatra e se satisfazia absorvendo os vapores da bebida através de encarnados afins, que encontrava facilmente em bares e outros locais. Quando se aproximava e conseguia sintonia com Paulo, já se encontrava “bêbado”, deixando o médium com todas as sensações e aparências da embriaguez.
Tratava-se de um caso de subjugação espiritual, caso avançado de obsessão.
Como nos ensina Kardec: “A obsessão é a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais”.
Fernando Rossit.
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