quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A DOUTRINA ESPÍRITA E OS ESPÍRITOS SUPERIORES




DOUTRINA ESPÍRITA 

Allan Kardec tinha consciência e também foi avisado pelos espíritos de que a teoria libertadora do Espiritismo seria combatida por espíritos e homens interessados em manter a humanidade ignorante, submissa e atrasada. Mergulhados nas imperfeições derivadas de seu orgulho e egoísmo, sedentos por privilégios e servilismo, cientes das grandes responsabilidades pessoais e do longo trabalho de reconstrução de suas personalidades à qual deverão empreender por livre vontade, resta-lhes a tentativa de atrapalhar, atrasar o esforço alheio, pela ilusão de não se verem sozinhos no estado de sofrimento a que se reduziram.
Em 1867, por meio de um médium em profundo estado sonambúlico, Kardec ouviu dos espíritos uma longa narrativa profética dos planos traçados para tentar destruir o doutrina espírita. Desde os insultos e ameaças dos púlpitos até a difamação nos órgãos de imprensa, todos os esforços se voltariam contra a doutrina da liberdade. Mas um passo decisivo seria dado, revelou a profecia, quando os inimigos pensaram sobre o Espiritismo:
“Antes que ele não esteja inteiramente realizado, tratemos de desviá-la em nosso proveito” (Revista Espírita de 1867, página 167).
O plano estava mudado, ao invés de atacar o espiritismo de fora, imitando o episódio histórico do cavalo de Tróia, agora a tentativa seria ataca-lo por dentro, por meio daqueles que participam do movimento de sua divulgação. Vejamos o que os espíritos disseram à Kardec:
“Vereis se formarem reuniões espíritas, cujo objetivo declarado será a defesa da doutrina, e o secreto será a sua destruição; supostos médiuns terão as comunicações de comando apropriadas ao oculto objetivo que se propõem; publicações que, sob o manto do espiritismo, se esforçarão por demoli-lo; doutrinas que lhe emprestarão algumas ideias, mas com o pensamento de suplantá-lo. Eis a luta, a verdadeira luta a ser sustentada, e que será perseguida com obstinação, mas da qual sairá vitorioso o mais forte” (Idem, ibidem).
O Espiritismo, de forma inédita e definitiva, oferece uma teoria moral renovadora, transformadora. Diferindo de todas as tradições religiosas em seus ensinamentos metafísicos, ele afasta as ideias de queda, castigo divino, degeneração do mundo, condenação, sofrimento como punição, enfim, toda a doutrina do pecado. Em seu lugar oferece a verdadeira relação de Deus conosco como sendo estabelecida pela mais plena liberdade. A moral é uma conquista do esforço pessoal, da luta por renovar-se, o Espiritismo revela a autonomia moral como lei fundamental do mundo espiritual. Contamos toda essa história na obra Revolução Espírita – a teoria esquecida de Allan Kardec.
Essa profecia de 1867 foi um alerta para o futuro do movimento espírita. Falsas teorias, médiuns fascinados, deturpações e mistificações seriam incorporadas ao discurso das tribunas e letras dos artigos deturpando a mensagem original.


Kardec não sabia que a doutrina que estabeleceu em suas obras iria atravessar o oceano e chegar amplamente divulgada em terras brasileiras. No entanto, a profecia dos planos para destruir o Espiritismo se fez plena e ampla por aqui, desde os tempos de sua chegada no século 19.
Nem todos, porém, se calaram! Lideres e estudiosos da doutrina espírita clamaram pela tese espírita da liberdade, da educação, da autonomia moral, em defesa dos conceitos fundamentais originários dos espíritos superiores. Avisaram aos participantes do movimento espírita de que seria fundamental seguir as orientações de Kardec na defesa do Espiritismo, como o alerta que o mestre fez em 1865:
“É um dever para todos os espíritas sinceros e devotados repudiar e desaprovar abertamente, em seu nome, os abusos de todos os gêneros que poderiam comprometê-la, a fim de não lhes assumir a responsabilidade. Pactuar com esses abusos seria tornar-se cúmplice e fornecer armas aos nossos adversários” (Revista Espírita de 1865, p.20).
Kardec não entrava em polêmicas pueris, não dedicava seu tempo a tentar convencer quem não combatia o Espiritismo, não respondia cartas anônimas. Investia seu tempo em esclarecer os interessados, aqueles que desejavam compreender mais profundamente essa doutrina. E não fugia do debate quando os pontos fundamentais eram deturpados, ou os meios de comunicação anunciavam inverdades:
“Há polêmica e polêmica; e há uma diante da qual não recuaremos jamais, que é a discussão séria dos princípios que professamos. Entretanto, aqui mesmo há uma distinção a fazer; se não se trata senão de ataques gerais, dirigidos contra a Doutrina, sem outro fim determinado que o de criticar, e da parte de pessoas que têm um propósito de rejeitar tudo o que não compreendem, isso não merece que deles se ocupe” (Revista Espírita de 1858, p. 199).


No século passado, os conselhos de Kardec foram ouvidos por diversos estudiosos espíritas. Uma dessas vozes conscientes, desses influentes líderes altivos, sinceros e dedicados à causa espírita foi o filósofo Herculano Pires. Suas obras, conquistas perenes de um trabalho árduo heculano_microfonee incansável e quase solitário foi um exemplo, um modelo, uma inspiração para as novas gerações de espíritas. Sua dedicação ao recobramento do Espiritismo tal como proposto por Kardec tem se refletido nos trabalhos e estudos conscientes de diversos pesquisadores, palestrantes e médiuns alertas e atuantes do movimento espírita. Alguns puderam ouvir ao vivo a voz firme, consoladora e determinada das palestras, aulas e programas radiofônicos de Herculano. A grande maioria despertou o interesse e mergulhou ávido nas obras de Kardec depois de ler os importantes livros do maior filósofo espírita que tivemos. Herculano Pires é o patrono de todos que atualmente lutam para romper as amarras deturpatórias nas quais a divulgação espírita tem mergulhado.
Um alerta consciente foi dado por Herculano na obra Curso Dinâmico de Espiritismo, diante das deturpações e desvios que ele via ocorrer no meio espírita de seu tempo, e, vale lembrar, fazendo eco à profecia de 1867 dada a Kardec que citamos acima:
“Todo espírita consciente de suas responsabilidades humanas e doutrinárias está no dever intransferível de lutar contra essas ondas de poluição espiritual que pesam na atmosfera terrena. Ninguém tem o direito de cruzar os braços em nome de uma falsa tolerância que os levará à cumplicidade. Os próprios e infelizes corifeus e propagadores dessas teorias ridículas são os mais necessitados de socorro. É legítima caridade repelir todas essas fantasias em nome da verdade, mesmo que isso magoe os companheiros iludidos” (Idem, p. 98).
Não se pode ficar quieto, aceitando as coisas como estão, questionando-se: “o que se pode fazer? as coisas são assim mesmo, não vale a pena mexer, só vai me trazer problemas”. Essa tolerância é uma cumplicidade indesculpável. Não se pede o combate direto, a caça às bruxas, não! A atitude de renovação não é essa falsa defesa. Polêmicas que descambam para o personalismo, para a discussão vazia e interminável nada acrescenta. Só demonstra desunião e despreparo. Em verdade, essas são as armas da intolerância. Quando se persegue e se denuncia indiscriminadamente se cria clima tenso, onde ninguém tem razão e a causa fica à margem. Nessa situação lamentável, todos acusam, sem que estejam certos ou errados. A real solução está na reconstrução dos ensinamentos originais pela laboriosa recuperação e pelo esclarecimento por meio do diálogo, do debate produtivo, da tolerância, da liberdade de pensamento. Veja como Herculano alerta de forma enfática e sem rodeios:
“A tolerância comodista dos que veem o erro e se calam é crime que terá de ser pago no futuro. Quem pactua com o erro para não criar problemas está, sem o saber, enleando-se nas teias sombrias da mentira, compromissando-se com os mentirosos. E esse compromisso é um desrespeito a todos os que se sacrificaram no passado e se sacrificam no presente para ajudar a Humanidade na defesa dos seus direitos evolutivos. Este é o momento grave da evolução terrena em que não podemos esquecer a advertência de Jesus: Seja o teu falar sim, sim; não, não. Multidões de criaturas foram sacrificadas no passado para que a Humanidade se libertasse de seus enganos e pudesse encontrar os caminhos limpos da verdade, ou seja, das coisas reais, verdadeiras, que nos conduzem ao saber e à liberdade. Se trairmos hoje, comodistamente, esses mártires inumeráveis, estaremos conspurcando a dignidade humana, cobrindo de lixo as sendas da verdade abertas pelo Cristo e agora reabertas pelo Espírito da Verdade através de Kardec” (Idem, ibidem).
E então, definindo claramente a melhor maneira de combater o Espiritismo, como se propôs a demonstrar o título deste artigo, explica Herculano Pires:
“Não há mais lugar para comodismos, compadrismos, tolerâncias criminosas no meio espírita. Cada um será responsável pelas ervas daninhas que deixar crescer ao seu redor. É essa a maneira mais eficaz de se combater o Espiritismo na atualidade: cruzar os braços, sorrir amarelo, concordar para não contrariar, porque, nesse caso, o combate à doutrina não vem de fora, mas de dentro do movimento doutrinário” (Idem, ibidem).
Para compreender esse estado de coisas vale a pena a seguinte comparação que a esclarece. Vamos supor que o governo detectasse que as ideias equivocadas espalhadas pela multidões sobre a física estivessem prejudicando o desenvolvimento de nossa sociedade. Um plano seria proposto para reverter a situação: ensinar física por todos os meios de divulgação em mensagens simples e objetivas, explicando os conceitos básicos da física moderna, de forma a reverter os equívocos da cultura popular. Mas quem vai elaborar esses ensinamentos? Os burocratas do governo? Os políticos? Os profissionais da imprensa? Não! De forma alguma! Só seria possível construir um plano coerente de ensino da física por quem tenha estudado profundamente essa ciência. Nada mais coerente. De resto, a ação naufragaria.
O mesmo ocorre com o Espiritismo, que em seu conteúdo tem a extensão e profundidade das demais ciências. Não existem, porém, professores e especialistas no Espiritismo. Não há quem se possa qualificar como tal. Diante da doutrina espírita somos todos estudantes! Todavia, uma divulgação consciente e adequada do Espiritismo só é possível depois de um estudo profundo de toda a obra de Kardec, incluindo seus livros, a coleção da Revista Espírita, além do conhecimento do contexto cultural francês do século 19, para que os artigos e hipóteses apresentadas por Kardec façam sentido hoje, pois os paradigmas das ciências mudaram muito nos últimos 150 anos.livro-curso-dinmico
Recomendamos a leitura de obras complementares como as de Herculano, também. Elas são inspiradoras de uma atitude corajosa e responsável diante da teoria espírita. Seu alerta é atual e precisa ser divulgado, para que no futuro, com o Espiritismo recuperado e conhecido pelas multidões, secundando a regeneração da humanidade, torne esse estado de coisas descrito a seguir pelo filósofo apenas um infeliz episódio do passado:
“Bastam esses fatos para nos mostrar que o Espiritismo é o Grande Desconhecido dos próprios espíritas. E é por isso, por causa dessa negligência imperdoável no estudo da doutrina, que os próprios adeptos se transformaram em eficientes instrumentos de combate ao Espiritismo. As pessoas de bom-senso e cultura se afastam horrorizadas de um meio em que só poderiam permanecer em ritmo de retrocesso ao condicionamento das crendices e do fanatismo. No campo científico o nada não existe nem pode existir. E como a base da doutrina é a Ciência, a sólida base dos fatos, a verdade incontestável e que o nosso movimento espírita não tem base.
Se os espíritas conscientes não se dispuserem a uma tentativa de reconstrução, de reerguimento desse edifício em perigo, ficaremos na condição de nababos que desprezam as suas riquezas por incompetência para geri-las. Temos nas mãos a Ciência Admirável que o Espírito da Verdade propôs a Descartes e mais tarde confiou a Kardec. Mas do que vale a ciência e o poder, a fortuna e a glória, se não formos capazes de zelar por tudo isso e nem mesmo de compreender o que possuímos? Nós mesmos abrimos o portal da muralha e recolhemos, alegres e estultos, o Cavalo de Tróia em nossa fortaleza inexpugnável”
(Curso Dinâmico de Espiritismo).


Allan Kardec. Da obra: O Livro dos Espíritos


Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
Criou o Universo, que abrange todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.
Os seres materiais constituem o mundo visível ou corpóreo, e os seres imateriais, o mundo invisível ou espírita, isto é, dos Espíritos.
O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.
O mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo espírita.
Os Espíritos revestem temporariamente um invólucro material perecível, cuja destruição pela morte lhes restitui a liberdade.
Entre as diferentes espécies de seres corpóreo, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que chegaram a certo grau de desenvolvimento, dando-lhe superioridade moral e intelectual sobre as outras.
A alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.
Há no homem três coisas:
1°, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2°, a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo;
3°, o laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito.
Tem assim o homem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe são comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos.
O laço ou perispírito, que prende ao corpo o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede no fenômeno das aparições.
O Espírito não é, pois, um ser abstrato, indefinido, só possível de conceber-se pelo pensamento. É um ser real, circunscrito, que, em certos casos, se torna apreciável pela vista, pelo ouvido e pelo tato.
Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são os anjos ou puros Espíritos. Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria eivados das nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho, etc. Comprazem-se no mal. Há também, entre os inferiores, os que não são nem muito bons nem muito mais, antes perturbadores e enredadores, do que perversos. A malícia e as inconsequências parecem ser o que neles predomina. São os Espíritos estúrdios ou levianos.
Os Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam atingido a absoluta perfeição moral.
Deixando o corpo, a alma volve ao mundo dos Espíritos, donde saíra, para passar por nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de Espírito errante.
Tendo o Espírito que passar por muitas encarnações, segue-se que todos nós temos tido muitas existências e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, quer na Terra, quer em outros mundos.
A encarnação dos Espíritos se dá sempre na espécie humana; seria erro acreditar-se que a alma ou Espírito possa encarnar no corpo de um animal.
As diferentes existências corpóreas do Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas; mas, a rapidez do seu progresso depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.
As qualidades da alma são as do Espírito que está encarnado em nós; assim, o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito, o homem perverso a de um Espírito impuro.
A alma possuía sua individualidade antes de encarnar; conserva-a depois de se haver separado do corpo.
Na sua volta ao mundo dos Espíritos, encontra ela todos aqueles que conhecera na Terra, e todas as suas existências anteriores se lhe desenham na memória, com a lembrança de todo bem e de todo mal que fez.
O Espírito encarnado se acha sob a influência da matéria; o homem que vence esta influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos bons Espíritos, em cuja companhia um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à sua natureza animal.


Os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo.
Os não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita; estão por toda parte no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos de contínuo.
É toda uma população invisível, a mover-se em torno de nós.
Os Espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo físico. Atuam sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das potências da Natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então inexplicados ou mal explicados e que não encontram explicação racional senão no Espiritismo.
As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação. Os maus nos impelem para o mal: é-lhes um gozo ver-nos e assemelhar-nos a eles.
As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As ocultas se verificam pela influência boa ou má que exercem sobre nós, à nossa revelia.
Cabe ao nosso juízo discernir as boas das más inspirações. As comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais, quase sempre pelos médiuns que lhes servem de instrumentos.
Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação.
Podem evocar-se todos os Espíritos: os que animaram homens obscuros, como os das personagens mais ilustres, seja qual for a época em que tenham vivido; os de nossos parentes, amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no Além, sobre o que pensam a nosso respeito, assim como as revelações que lhes sejam permitidas fazer-nos. Os Espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem, de se instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos inferiores que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frívolas ou impelidas unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instintos. Longe de se obterem bons conselhos, ou informações úteis, deles só se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou mistificações, pois que muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro.
Distinguir os bons dos maus Espíritos é extremamente fácil. Os Espíritos superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, escoimada de qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria lhes transparece dos conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da Humanidade. A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente, amiúde trivial e até grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malícia ou ignorância. Zombam da credulidade dos homens e se divertem à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade, alimentando-lhes os desejos com falazes esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, na mais ampla acepção do termo, só são dadas nos centros sérios, onde intima comunhão de pensamentos, tendo em vista o bem.
A moral dos Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o mal. Neste princípio encontra o homem uma regra universal de proceder, mesmo para as suas menores ações.
Ensinam-nos que o egoísmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; que o homem que, já neste mundo, se desliga da matéria, desprezando as futilidades mundanas e amando o próximo, se avizinha da natureza espiritual; que cada um deve tornar-se útil, de acordo com as faculdades e os meios que Deus lhe pôs nas mãos para experimentá-lo; que o Forte e o Poderoso devem amparo e proteção ao Fraco, porquanto transgride a Lei de Deus aquele que abusa da força e do poder para oprimir o seu semelhante. Ensinam, finalmente, que, no mundo dos Espíritos, nada podendo estar oculto, o hipócrita será desmascarado e patenteadas todas as suas torpezas, que a presença inevitável, e de todos os instantes, daqueles para com quem houvermos procedido mal constitui um dos castigos que nos estão reservados; que ao estado de inferioridade e superioridade dos Espíritos correspondem penas e gozos desconhecidos na Terra.
Mas, ensinam também não haver faltas irremissíveis, que a expiação não possa apagar. Meio de consegui-lo encontra o homem nas diferentes existências que lhe permitem avançar, conformemente aos seus desejos e esforços, na senda do progresso, para a perfeição, que é o seu destino final.

Este o resumo da Doutrina Espírita,

como resulta dos ensinamentos dados

pelos Espíritos superiores.


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