O propósito desta pagina é de compartilhar assuntos e ensinamentos da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec bem como a Lei do Amor e da caridade determinada por nosso Mestre Amado Jesus Cristo.
Allan Kardec tinha consciência e também
foi avisado pelos espíritos de que a teoria libertadora do Espiritismo
seria combatida por espíritos e homens interessados em manter a
humanidade ignorante, submissa e atrasada. Mergulhados nas imperfeições
derivadas de seu orgulho e egoísmo, sedentos por privilégios e
servilismo, cientes das grandes responsabilidades pessoais e do longo
trabalho de reconstrução de suas personalidades à qual deverão
empreender por livre vontade, resta-lhes a tentativa de atrapalhar,
atrasar o esforço alheio, pela ilusão de não se verem sozinhos no estado
de sofrimento a que se reduziram.
Em 1867, por meio de um médium em
profundo estado sonambúlico, Kardec ouviu dos espíritos uma longa
narrativa profética dos planos traçados para tentar destruir o doutrina
espírita. Desde os insultos e ameaças dos púlpitos até a difamação nos
órgãos de imprensa, todos os esforços se voltariam contra a doutrina da
liberdade. Mas um passo decisivo seria dado, revelou a profecia, quando
os inimigos pensaram sobre o Espiritismo:
“Antes que ele não esteja inteiramente
realizado, tratemos de desviá-la em nosso proveito” (Revista Espírita de
1867, página 167).
O plano estava mudado, ao invés de
atacar o espiritismo de fora, imitando o episódio histórico do cavalo de
Tróia, agora a tentativa seria ataca-lo por dentro, por meio daqueles
que participam do movimento de sua divulgação. Vejamos o que os
espíritos disseram à Kardec:
“Vereis se formarem reuniões espíritas,
cujo objetivo declarado será a defesa da doutrina, e o secreto será a
sua destruição; supostos médiuns terão as comunicações de comando
apropriadas ao oculto objetivo que se propõem; publicações que, sob o
manto do espiritismo, se esforçarão por demoli-lo; doutrinas que lhe
emprestarão algumas ideias, mas com o pensamento de suplantá-lo. Eis a
luta, a verdadeira luta a ser sustentada, e que será perseguida com
obstinação, mas da qual sairá vitorioso o mais forte” (Idem, ibidem).
O Espiritismo, de forma inédita e
definitiva, oferece uma teoria moral renovadora, transformadora.
Diferindo de todas as tradições religiosas em seus ensinamentos
metafísicos, ele afasta as ideias de queda, castigo divino, degeneração
do mundo, condenação, sofrimento como punição, enfim, toda a doutrina do
pecado. Em seu lugar oferece a verdadeira relação de Deus conosco como
sendo estabelecida pela mais plena liberdade. A moral é uma conquista do
esforço pessoal, da luta por renovar-se, o Espiritismo revela a
autonomia moral como lei fundamental do mundo espiritual. Contamos toda
essa história na obra Revolução Espírita – a teoria esquecida de Allan
Kardec.
Essa profecia de 1867 foi um alerta para
o futuro do movimento espírita. Falsas teorias, médiuns fascinados,
deturpações e mistificações seriam incorporadas ao discurso das tribunas
e letras dos artigos deturpando a mensagem original.
Kardec não sabia que a doutrina que
estabeleceu em suas obras iria atravessar o oceano e chegar amplamente
divulgada em terras brasileiras. No entanto, a profecia dos planos para
destruir o Espiritismo se fez plena e ampla por aqui, desde os tempos de
sua chegada no século 19.
Nem todos, porém, se calaram! Lideres e
estudiosos da doutrina espírita clamaram pela tese espírita da
liberdade, da educação, da autonomia moral, em defesa dos conceitos
fundamentais originários dos espíritos superiores. Avisaram aos
participantes do movimento espírita de que seria fundamental seguir as
orientações de Kardec na defesa do Espiritismo, como o alerta que o
mestre fez em 1865:
“É um dever para todos os espíritas
sinceros e devotados repudiar e desaprovar abertamente, em seu nome, os
abusos de todos os gêneros que poderiam comprometê-la, a fim de não lhes
assumir a responsabilidade. Pactuar com esses abusos seria tornar-se
cúmplice e fornecer armas aos nossos adversários” (Revista Espírita de
1865, p.20).
Kardec não entrava em polêmicas pueris, não dedicava seu tempo a tentar
convencer quem não combatia o Espiritismo, não respondia cartas
anônimas. Investia seu tempo em esclarecer os interessados, aqueles que
desejavam compreender mais profundamente essa doutrina. E não fugia do
debate quando os pontos fundamentais eram deturpados, ou os meios de
comunicação anunciavam inverdades:
“Há polêmica e polêmica; e há uma diante
da qual não recuaremos jamais, que é a discussão séria dos princípios
que professamos. Entretanto, aqui mesmo há uma distinção a fazer; se não
se trata senão de ataques gerais, dirigidos contra a Doutrina, sem
outro fim determinado que o de criticar, e da parte de pessoas que têm
um propósito de rejeitar tudo o que não compreendem, isso não merece que
deles se ocupe” (Revista Espírita de 1858, p. 199).
No século passado, os conselhos de
Kardec foram ouvidos por diversos estudiosos espíritas. Uma dessas vozes
conscientes, desses influentes líderes altivos, sinceros e dedicados à
causa espírita foi o filósofo Herculano Pires. Suas obras, conquistas
perenes de um trabalho árduo heculano_microfonee incansável e quase
solitário foi um exemplo, um modelo, uma inspiração para as novas
gerações de espíritas. Sua dedicação ao recobramento do Espiritismo tal
como proposto por Kardec tem se refletido nos trabalhos e estudos
conscientes de diversos pesquisadores, palestrantes e médiuns alertas e
atuantes do movimento espírita. Alguns puderam ouvir ao vivo a voz
firme, consoladora e determinada das palestras, aulas e programas
radiofônicos de Herculano. A grande maioria despertou o interesse e
mergulhou ávido nas obras de Kardec depois de ler os importantes livros
do maior filósofo espírita que tivemos. Herculano Pires é o patrono de
todos que atualmente lutam para romper as amarras deturpatórias nas
quais a divulgação espírita tem mergulhado.
Um alerta consciente foi dado por
Herculano na obra Curso Dinâmico de Espiritismo, diante das deturpações e
desvios que ele via ocorrer no meio espírita de seu tempo, e, vale
lembrar, fazendo eco à profecia de 1867 dada a Kardec que citamos acima:
“Todo espírita consciente de suas
responsabilidades humanas e doutrinárias está no dever intransferível de
lutar contra essas ondas de poluição espiritual que pesam na atmosfera
terrena. Ninguém tem o direito de cruzar os braços em nome de uma falsa
tolerância que os levará à cumplicidade. Os próprios e infelizes
corifeus e propagadores dessas teorias ridículas são os mais
necessitados de socorro. É legítima caridade repelir todas essas
fantasias em nome da verdade, mesmo que isso magoe os companheiros
iludidos” (Idem, p. 98).
Não se pode ficar quieto, aceitando as
coisas como estão, questionando-se: “o que se pode fazer? as coisas são
assim mesmo, não vale a pena mexer, só vai me trazer problemas”. Essa
tolerância é uma cumplicidade indesculpável. Não se pede o combate
direto, a caça às bruxas, não! A atitude de renovação não é essa falsa
defesa. Polêmicas que descambam para o personalismo, para a discussão
vazia e interminável nada acrescenta. Só demonstra desunião e
despreparo. Em verdade, essas são as armas da intolerância. Quando se
persegue e se denuncia indiscriminadamente se cria clima tenso, onde
ninguém tem razão e a causa fica à margem. Nessa situação lamentável,
todos acusam, sem que estejam certos ou errados. A real solução está na
reconstrução dos ensinamentos originais pela laboriosa recuperação e
pelo esclarecimento por meio do diálogo, do debate produtivo, da
tolerância, da liberdade de pensamento. Veja como Herculano alerta de
forma enfática e sem rodeios:
“A tolerância comodista dos que veem o
erro e se calam é crime que terá de ser pago no futuro. Quem pactua com o
erro para não criar problemas está, sem o saber, enleando-se nas teias
sombrias da mentira, compromissando-se com os mentirosos. E esse
compromisso é um desrespeito a todos os que se sacrificaram no passado e
se sacrificam no presente para ajudar a Humanidade na defesa dos seus
direitos evolutivos. Este é o momento grave da evolução terrena em que
não podemos esquecer a advertência de Jesus: Seja o teu falar sim, sim;
não, não. Multidões de criaturas foram sacrificadas no passado para que a
Humanidade se libertasse de seus enganos e pudesse encontrar os
caminhos limpos da verdade, ou seja, das coisas reais, verdadeiras, que
nos conduzem ao saber e à liberdade. Se trairmos hoje, comodistamente,
esses mártires inumeráveis, estaremos conspurcando a dignidade humana,
cobrindo de lixo as sendas da verdade abertas pelo Cristo e agora
reabertas pelo Espírito da Verdade através de Kardec” (Idem, ibidem).
E então, definindo claramente a melhor maneira de combater o
Espiritismo, como se propôs a demonstrar o título deste artigo, explica
Herculano Pires:
“Não há mais lugar para comodismos,
compadrismos, tolerâncias criminosas no meio espírita. Cada um será
responsável pelas ervas daninhas que deixar crescer ao seu redor. É essa
a maneira mais eficaz de se combater o Espiritismo na atualidade:
cruzar os braços, sorrir amarelo, concordar para não contrariar, porque,
nesse caso, o combate à doutrina não vem de fora, mas de dentro do
movimento doutrinário” (Idem, ibidem).
Para compreender esse estado de coisas
vale a pena a seguinte comparação que a esclarece. Vamos supor que o
governo detectasse que as ideias equivocadas espalhadas pela multidões
sobre a física estivessem prejudicando o desenvolvimento de nossa
sociedade. Um plano seria proposto para reverter a situação: ensinar
física por todos os meios de divulgação em mensagens simples e
objetivas, explicando os conceitos básicos da física moderna, de forma a
reverter os equívocos da cultura popular. Mas quem vai elaborar esses
ensinamentos? Os burocratas do governo? Os políticos? Os profissionais
da imprensa? Não! De forma alguma! Só seria possível construir um plano
coerente de ensino da física por quem tenha estudado profundamente essa
ciência. Nada mais coerente. De resto, a ação naufragaria.
O mesmo ocorre com o Espiritismo, que em
seu conteúdo tem a extensão e profundidade das demais ciências. Não
existem, porém, professores e especialistas no Espiritismo. Não há quem
se possa qualificar como tal. Diante da doutrina espírita somos todos
estudantes! Todavia, uma divulgação consciente e adequada do Espiritismo
só é possível depois de um estudo profundo de toda a obra de Kardec,
incluindo seus livros, a coleção da Revista Espírita, além do
conhecimento do contexto cultural francês do século 19, para que os
artigos e hipóteses apresentadas por Kardec façam sentido hoje, pois os
paradigmas das ciências mudaram muito nos últimos 150
anos.livro-curso-dinmico
Recomendamos a leitura de obras
complementares como as de Herculano, também. Elas são inspiradoras de
uma atitude corajosa e responsável diante da teoria espírita. Seu alerta
é atual e precisa ser divulgado, para que no futuro, com o Espiritismo
recuperado e conhecido pelas multidões, secundando a regeneração da
humanidade, torne esse estado de coisas descrito a seguir pelo filósofo
apenas um infeliz episódio do passado:
“Bastam esses fatos para nos mostrar que
o Espiritismo é o Grande Desconhecido dos próprios espíritas. E é por
isso, por causa dessa negligência imperdoável no estudo da doutrina, que
os próprios adeptos se transformaram em eficientes instrumentos de
combate ao Espiritismo. As pessoas de bom-senso e cultura se afastam
horrorizadas de um meio em que só poderiam permanecer em ritmo de
retrocesso ao condicionamento das crendices e do fanatismo. No campo
científico o nada não existe nem pode existir. E como a base da doutrina
é a Ciência, a sólida base dos fatos, a verdade incontestável e que o
nosso movimento espírita não tem base.
Se os espíritas conscientes não se
dispuserem a uma tentativa de reconstrução, de reerguimento desse
edifício em perigo, ficaremos na condição de nababos que desprezam as
suas riquezas por incompetência para geri-las. Temos nas mãos a Ciência
Admirável que o Espírito da Verdade propôs a Descartes e mais tarde
confiou a Kardec. Mas do que vale a ciência e o poder, a fortuna e a
glória, se não formos capazes de zelar por tudo isso e nem mesmo de
compreender o que possuímos? Nós mesmos abrimos o portal da muralha e
recolhemos, alegres e estultos, o Cavalo de Tróia em nossa fortaleza
inexpugnável”
(Curso Dinâmico de Espiritismo).
Allan Kardec. Da obra: O Livro dos Espíritos
Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
Criou o Universo, que abrange todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.
Os seres materiais constituem o mundo
visível ou corpóreo, e os seres imateriais, o mundo invisível ou
espírita, isto é, dos Espíritos.
O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.
O mundo corporal é secundário; poderia
deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se
alterasse a essência do mundo espírita.
Os Espíritos revestem temporariamente um invólucro material perecível, cuja destruição pela morte lhes restitui a liberdade.
Entre as diferentes espécies de seres
corpóreo, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos
que chegaram a certo grau de desenvolvimento, dando-lhe superioridade
moral e intelectual sobre as outras.
A alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.
Há no homem três coisas:
1°, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2°, a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo;
3°, o laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito.
Tem assim o homem duas naturezas: pelo
corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe são
comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos.
O laço ou perispírito, que prende ao
corpo o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a
destruição do invólucro mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo,
que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal,
porém que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como
sucede no fenômeno das aparições.
O Espírito não é, pois, um ser abstrato,
indefinido, só possível de conceber-se pelo pensamento. É um ser real,
circunscrito, que, em certos casos, se torna apreciável pela vista, pelo
ouvido e pelo tato.
Os Espíritos pertencem a diferentes
classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em
saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos
superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus
conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e
por seu amor do bem: são os anjos ou puros Espíritos. Os das outras
classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição,
mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria eivados das
nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho, etc. Comprazem-se
no mal. Há também, entre os inferiores, os que não são nem muito bons
nem muito mais, antes perturbadores e enredadores, do que perversos. A
malícia e as inconsequências parecem ser o que neles predomina. São os
Espíritos estúrdios ou levianos.
Os Espíritos não ocupam perpetuamente a
mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da
hierarquia espírita. Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é
imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material é
uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam atingido a
absoluta perfeição moral.
Deixando o corpo, a alma volve ao mundo
dos Espíritos, donde saíra, para passar por nova existência material,
após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em
estado de Espírito errante.
Tendo o Espírito que passar por muitas
encarnações, segue-se que todos nós temos tido muitas existências e que
teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, quer na Terra, quer
em outros mundos.
A encarnação dos Espíritos se dá sempre
na espécie humana; seria erro acreditar-se que a alma ou Espírito possa
encarnar no corpo de um animal.
As diferentes existências corpóreas do
Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas; mas, a rapidez do
seu progresso depende dos esforços que faça para chegar à perfeição.
As qualidades da alma são as do Espírito
que está encarnado em nós; assim, o homem de bem é a encarnação de um
bom Espírito, o homem perverso a de um Espírito impuro.
A alma possuía sua individualidade antes de encarnar; conserva-a depois de se haver separado do corpo.
Na sua volta ao mundo dos Espíritos,
encontra ela todos aqueles que conhecera na Terra, e todas as suas
existências anteriores se lhe desenham na memória, com a lembrança de
todo bem e de todo mal que fez.
O Espírito encarnado se acha sob a
influência da matéria; o homem que vence esta influência, pela elevação e
depuração de sua alma, se aproxima dos bons Espíritos, em cuja
companhia um dia estará. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e
põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se
aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à sua natureza
animal.
Os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo.
Os não encarnados ou errantes não ocupam
uma região determinada e circunscrita; estão por toda parte no espaço e
ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos de contínuo.
É toda uma população invisível, a mover-se em torno de nós.
Os Espíritos exercem incessante ação
sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo físico. Atuam sobre a matéria e
sobre o pensamento e constituem uma das potências da Natureza, causa
eficiente de uma multidão de fenômenos até então inexplicados ou mal
explicados e que não encontram explicação racional senão no Espiritismo.
As relações dos Espíritos com os homens
são constantes. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam
nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação.
Os maus nos impelem para o mal: é-lhes um gozo ver-nos e assemelhar-nos a
eles.
As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas.
As ocultas se verificam pela influência boa ou má que exercem sobre nós,
à nossa revelia.
Cabe ao nosso juízo discernir as boas das más inspirações. As
comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou de
outras manifestações materiais, quase sempre pelos médiuns que lhes
servem de instrumentos.
Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação.
Podem evocar-se todos os Espíritos: os
que animaram homens obscuros, como os das personagens mais ilustres,
seja qual for a época em que tenham vivido; os de nossos parentes,
amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações escritas ou
verbais, conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no
Além, sobre o que pensam a nosso respeito, assim como as revelações que
lhes sejam permitidas fazer-nos. Os Espíritos são atraídos na razão da
simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os
Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o
amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem, de se
instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos inferiores
que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a
liberdade entre pessoas frívolas ou impelidas unicamente pela
curiosidade e onde quer que existam maus instintos. Longe de se obterem
bons conselhos, ou informações úteis, deles só se devem esperar
futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou mistificações, pois que
muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro.
Distinguir os bons dos maus Espíritos é
extremamente fácil. Os Espíritos superiores usam constantemente de
linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, escoimada de
qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria lhes transparece dos
conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da
Humanidade. A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente,
amiúde trivial e até grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e
verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malícia ou
ignorância. Zombam da credulidade dos homens e se divertem à custa dos
que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade, alimentando-lhes os
desejos com falazes esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, na
mais ampla acepção do termo, só são dadas nos centros sérios, onde
intima comunhão de pensamentos, tendo em vista o bem.
A moral dos Espíritos superiores se
resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Fazer aos outros o
que quereríamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o
mal. Neste princípio encontra o homem uma regra universal de proceder,
mesmo para as suas menores ações.
Ensinam-nos que o egoísmo, o orgulho, a
sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal,
prendendo-nos à matéria; que o homem que, já neste mundo, se desliga da
matéria, desprezando as futilidades mundanas e amando o próximo, se
avizinha da natureza espiritual; que cada um deve tornar-se útil, de
acordo com as faculdades e os meios que Deus lhe pôs nas mãos para
experimentá-lo; que o Forte e o Poderoso devem amparo e proteção ao
Fraco, porquanto transgride a Lei de Deus aquele que abusa da força e do
poder para oprimir o seu semelhante. Ensinam, finalmente, que, no mundo
dos Espíritos, nada podendo estar oculto, o hipócrita será desmascarado
e patenteadas todas as suas torpezas, que a presença inevitável, e de
todos os instantes, daqueles para com quem houvermos procedido mal
constitui um dos castigos que nos estão reservados; que ao estado de
inferioridade e superioridade dos Espíritos correspondem penas e gozos
desconhecidos na Terra.
Mas, ensinam também não haver faltas irremissíveis, que a expiação não
possa apagar. Meio de consegui-lo encontra o homem nas diferentes
existências que lhe permitem avançar, conformemente aos seus desejos e
esforços, na senda do progresso, para a perfeição, que é o seu destino
final.
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