Fábio José Lourenço Bezerra
Uma vez que já reencarnamos várias vezes, por que, em geral, não lembramos dessas vidas anteriores?
Na pergunta Nº392 de “O Livro dos Espíritos”, temos: “Por que perde o Espírito encarnado a lembrança do seu passado?”
Resposta: “Não pode o homem, nem deve, saber tudo. Deus assim o quer em sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro. Esquecido do seu passado ele é mais senhor de si.”
Na pergunta Nº393, temos: “Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas de que se não lembra? Como pode aproveitar da experiência de vidas de que se esqueceu? Concebe-se que as tribulações da existência lhe servissem de lição, se se recordasse do que tenha podido ocasionar. Desde que, porém, disso não se recorda, cada existência é, para ele, como se fosse a primeira e eis que então está sempre a recomeçar. Como conciliar isto com a justiça de Deus?
Resposta: “Em cada nova existência, o homem dispõe de mais inteligência e melhor pode distinguir o bem do mal. Onde o seu mérito se se lembrasse de todo o passado? Quando o Espírito volta à vida anterior (a vida espírita), diante dos olhos se lhe estende toda a sua vida pretérita. Vê as faltas que cometeu e que deram causa a seu sofrer, assim como de que modo as teria evitado. Reconhece justa a situação em que se acha e busca então uma existência capaz de reparar a que vem de transcorrer. Escolhe provas análogas às de que não soube aproveitar, ou as lutas que considere apropriadas ao seu adiantamento e pede a Espíritos que lhe são superiores que o ajudem na nova empresa que sobre si toma, ciente de que o Espírito, que lhe for dado por guia nessa outra existência, se esforçará pelo levar a reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das em que incorreu. Tendes essa intuição no pensamento, no desejo criminoso que frequentemente vos assalta e a que instintivamente resistis, atribuindo, as mais das vezes, essa resistência aos princípios que recebestes de vossos pais, quando é a voz da consciência que vos fala. Essa voz, que é a lembrança do passado, vos adverte para não recairdes nas faltas de que já vos fizestes culpados (grifo nosso) . Em a nova existência, se sofre com coragem aquelas provas e resiste, o Espírito se eleva e ascende na hierarquia dos Espíritos, ao voltar para o meio deles.”
Comentário de Kardec: “Não temos, é certo, durante a vida corpórea, lembrança exata do que fomos e do que fizemos em anteriores existências; mas temos de tudo isso a intuição, sendo as nossas tendências instintivas uma reminiscência do passado. E a nossa consciência, que é o desejo que experimentamos de não reincidir nas faltas já cometidas, nos concita à resistência àqueles pendores”
As diferenças morais e intelectuais, que verificamos entre as pessoas, resultam dos diferentes graus de evolução que possuem. Se são muito inteligentes e/ou bons, é que desenvolveram essas qualidades ao longo de suas várias existências no mundo material. Mesmo esquecendo os detalhes das vidas anteriores (memória factual) temporariamente durante a vida presente, os Espíritos encarnados conservam a memória intuitiva do que aprenderam em outras existências, e também, através de suas reflexões quando estão no mundo espiritual, acerca dos erros que cometeram, e isso os impele a formar sua personalidade atual, juntamente com tudo o que o ambiente proporciona durante a vida, principalmente na infância.
A tarefa, de nos aconselhar e lembrar, através da inspiração (como vimos acima), dos compromissos assumidos no mundo espiritual, também fica a cargo dos bons Espíritos, especificamente aqueles que se encarregaram de nos tutelar em nosso aprendizado e nos proteger. São os Espíritos protetores e guias espirituais, popularmente conhecidos como anjos da guarda. Contudo, nem sempre acatamos suas sugestões, envolvidos que ficamos pelo mundo material.
A maior ou menor capacidade de aprender essa ou aquela matéria da escola, as tendências para essa ou aquela profissão, gostos, vícios, fobias (como a claustrofobia, que é o medo de ficar em lugares fechados), que não possuem explicação nesta existência, é devido ao que foi adquirido em vidas anteriores. Isso sem falar que o cérebro possui grande influência nesse processo, atuando como filtro, inibindo ou liberando essas potencialidades, dependendo do desenvolvimento ou não de suas partes constituintes, responsáveis por essa ou aquela função mental (memória, raciocínio, emoções, etc). A deficiência mental e a loucura, por exemplo, existem devido a essa influência. Espíritos de grande desenvolvimento intelectual podem estar aprisionados em um corpo cujo cérebro, pouco desenvolvido, os impede de manifestar sua inteligência (Ver o texto “Terapia Mediúnica Mostra-se Eficaz em Pesquisa na USP”, neste blog).
Vejamos o que disse Allan Kardec no livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Capítulo V, na parte intitulada ESQUECIMENTO DO PASSADO:
“É em vão que se objeta o esquecimento como um obstáculo no sentido de que se possa aproveitar a experiência das existências anteriores. Se Deus julgou conveniente lançar um véu sobre o passado, é porque isso devia ser útil. Com efeito, essa lembrança teria graves inconvenientes; poderia, em certos casos, no humilhar estranhamente, ou exaltar o nosso orgulho, e, por isso mesmo, entravar o nosso livre-arbítrio; em todos os casos, traria uma perturbação inevitável nas relações sociais.
O Espírito renasce, frequentemente, no mesmo meio em que viveu, e se acha em relação com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes fez. Se reconhecesse nelas as que odiou, talvez seu ódio se revelasse; em todos os casos, seria humilhado diante daqueles que houvesse ofendido.
Deus nos deu, para nosso adiantamento, justamente o que nos é necessário e pode nos bastar: a voz da consciência e nossas tendências instintivas, e nos tira o que poderia nos prejudicar.
Ao nascer, o homem traz o que adquiriu; nasce como se fez; cada existência é para ele um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi; ele é punido porque fez o mal e suas tendências más atuais são indício do que resta nele a corrigir, sendo nisso que deve concentrar sua atenção, porque do que está completamente corrigido não lhe resta nenhum traço. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência que o adverte do que é bem ou mal, e lhe dá a força para resistir ás más tentações.
De resto, esse esquecimento não ocorre senão durante a vida corporal. Reentrando na vida espiritual, o espírito retoma as lembranças do passado; isso não é, pois, senão uma interrupção momentânea, como a que ocorre na vida terrestre durante o sono, e que não impede de lembrar no dia seguinte o que se fez na véspera e nos dias precedentes.
Não é apenas depois da morte que o Espírito recobra as lembranças do passado; pode-se dizer que não as perde jamais, porque a experiência prova que na encarnação, durante o sono do corpo, quando goza de uma certa liberdade, o Espírito tem consciência de seus atos anteriores; ele sabe por que sofre, e que sofre justamente; a lembrança não se apaga senão durante a vida exterior de relação. Mas, á falta de uma lembrança precisa, que poderia lhe ser penosa e prejudicar suas relações sociais, ele haure novas forças nesses instantes de emancipação da alma, se sabe aproveitá-los.”
Imaginemos, por exemplo, um pai e seu filho nesta encarnação. Em uma vida passada, um deles matou, traíu, enfim, fez um grave malefício ao outro. Será que nesta encarnação, como pai e filho, eles teriam, através dos laços de parentesco, condições de reconciliação, caso lembrassem de tudo o que aconteceu? muito pouco provável. O esquecimento, neste caso, é muito útil, pois proporciona a oportunidade do rompimento da relação de ódio entre dois irmãos em Deus, a fim de que aquele que errou possa reparar seu erro, dedicando sua vida à sua vítima do passado.
Imaginemos outra situação. Alguém está em perigo, por exemplo, ferido em um acidente automobilístico, ocorrido em um trecho de estrada deserta. Uma pessoa pára o seu carro e socorre a vítima, acalmando-a enquanto a ambulância chega. Esta pessoa foi quem chamou a ambulância. Em existência passada, a vítima do acidente foi gravemente ferida justamente por este que agora a socorre! algumas pessoas, por ódio, recusariam ajuda, caso lembrassem do caso. E que mérito teria aquele que ajudou, caso lembrasse? esquecendo os fatos da vida anterior, somente pelo sentimento de solidariedade, brotando espontaneamente de seu coração, para com a vítima do acidente, mostra que ele evoluiu, e ao mesmo tempo quita o seu débito para com a vítima.
Assim, muito útil se mostra o véu que cobre a memória das nossas vidas anteriores. Facilita-nos a evolução, ao evitar as complicações sociais que as lembranças ocasionariam. Também nos garante que nossas ações brotam de nossa consciência, reflexo do que aprendemos em nossas experiências anteriores e no mundo espiritual, sinal de evolução do Espírito. Aprendizado este posto em prática no mundo material, fruto unicamente do nosso mérito, como bem explicou o Espírito Superior e Allan Kardec, nos textos acima.
Continua no texto "Por Que Esquecemos Nossas Vidas Passadas? Parte 2 - A Infância", neste blog.
Imaginemos, por exemplo, um pai e seu filho nesta encarnação. Em uma vida passada, um deles matou, traíu, enfim, fez um grave malefício ao outro. Será que nesta encarnação, como pai e filho, eles teriam, através dos laços de parentesco, condições de reconciliação, caso lembrassem de tudo o que aconteceu? muito pouco provável. O esquecimento, neste caso, é muito útil, pois proporciona a oportunidade do rompimento da relação de ódio entre dois irmãos em Deus, a fim de que aquele que errou possa reparar seu erro, dedicando sua vida à sua vítima do passado.
Imaginemos outra situação. Alguém está em perigo, por exemplo, ferido em um acidente automobilístico, ocorrido em um trecho de estrada deserta. Uma pessoa pára o seu carro e socorre a vítima, acalmando-a enquanto a ambulância chega. Esta pessoa foi quem chamou a ambulância. Em existência passada, a vítima do acidente foi gravemente ferida justamente por este que agora a socorre! algumas pessoas, por ódio, recusariam ajuda, caso lembrassem do caso. E que mérito teria aquele que ajudou, caso lembrasse? esquecendo os fatos da vida anterior, somente pelo sentimento de solidariedade, brotando espontaneamente de seu coração, para com a vítima do acidente, mostra que ele evoluiu, e ao mesmo tempo quita o seu débito para com a vítima.
Assim, muito útil se mostra o véu que cobre a memória das nossas vidas anteriores. Facilita-nos a evolução, ao evitar as complicações sociais que as lembranças ocasionariam. Também nos garante que nossas ações brotam de nossa consciência, reflexo do que aprendemos em nossas experiências anteriores e no mundo espiritual, sinal de evolução do Espírito. Aprendizado este posto em prática no mundo material, fruto unicamente do nosso mérito, como bem explicou o Espírito Superior e Allan Kardec, nos textos acima.
Continua no texto "Por Que Esquecemos Nossas Vidas Passadas? Parte 2 - A Infância", neste blog.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: princípios da doutrina espírita. 76. ed. Rio de Janeiro: FEB, [1995].
2 _______________. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 3.ed. São Paulo: Petit, [1997].
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