O que é o ambiente espiritual? Como ele pode ser influenciado e como ele nos influencia?
Allan Kardec nos esclarece em “A Gênese”:
“O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais, como o dos desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito pelas mesmas vias e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos ambientes.”[1]
Assim, o pensamento é a forma de atuação no ambiente espiritual. Influem
nele tanto os encarnados quanto os desencarnados, havendo transmissão
de um a outro (Espírito a Espírito), através do fluido cósmico. E,
conforme a sua natureza, de responsabilidade do Espírito (encarnado ou
desencarnado) que emite esses pensamentos, pode sanear ou viciar o
ambiente fluídico.
Sentimos isso no dia a dia. Um ambiente pesado, ainda que fisicamente se
apresente asseado e organizado, e um ambiente salutar, que nos enche de
alegria e bem estar, independente de como se apresenta o ambiente
físico. Esse ambiente é criado e mantido pelos Espíritos que ali emitem
seus pensamentos, dos dois lados da vida.
André Luiz, na obra “Missionários da Luz” [2], nos traz a orientação de Alexandre (grifos nossos):
“Primeiramente a semeadura, depois a colheita; e, tanto as sementes de trigo como de escalracho, encontrando terra propícia, produzirão a seu modo e na mesma pauta de multiplicação. Nessa resposta da Natureza ao esforço do lavrador, temos simplesmente a lei. Você está observando o setor das larvas com justificável admiração. Não tenha dúvida. Nas moléstias da alma, como nas enfermidades do corpo físico, antes da afecção existe o ambiente. As ações produzem efeitos, os sentimentos geram criações, os pensamentos dão origem a formas e consequências de infinitas expressões. E, em virtude de cada Espírito representar um universo por si, cada um de nós é responsável pela emissão das forças que lançamos em circulação nas correntes da vida. A cólera, a desesperação, o ódio e o vício oferecem campo a perigosos germens psíquicos na esfera da alma. E, qual acontece no terreno das enfermidades do corpo, o contágio aqui é fato consumado, desde que a imprevidência ou a necessidade de luta estabeleça ambiente propício, entre companheiros do mesmo nível. Naturalmente, no campo da matéria mais grosseira, essa lei funciona com violência, enquanto, entre nós, se desenvolve com as modificações naturais. Aliás, não pode ser de outro modo, mesmo porque você não ignora que muita gente cultiva a vocação para o abismo. Cada viciação particular da personalidade produz as formas sombrias que lhe são consequentes, e estas, como as plantas inferiores que se alastram no solo, por relaxamento do responsável, são extensivas às regiões próximas, onde não prevalece o espírito de vigilância e defesa.”
Destaquemos alguns pontos do texto para estudo:
- “(...) antes da afecção existe o ambiente.” – Alexandre refere-se à presença de “bacilos de natureza psíquica” no ambiente espiritual. E que antes da contaminação, há a formação do ambiente adequado para o desenvolvimento de tais criaturas, através do tipo de pensamento emitido pelo encarnado.
- “(...) cada um de nós é responsável pela emissão das forças que lançamos em circulação nas correntes da vida.” – A emissão de forças que lançamos nas correntes da vida, são nossos pensamentos e atos. Qual tem sido o teor preponderante dos nossos pensamentos? São pensamentos de harmonia, de gratidão, de esperança e otimismo? Ou são pensamentos de revolta, desânimo, cólera?
- “(...) a imprevidência ou a necessidade de luta estabeleça ambiente propício, (...)” – Há situações que não podemos evitar – são os “escândalos” a que se refere nosso Mestre Jesus. E os bons Espíritos nos sustentam e auxiliam a atravessar esta e outras situações, com o equilíbrio possível. Porém, não existem apenas situações inevitáveis, devido a nossa necessidade de luta. Alexandre destaca a imprevidência. Ser imprevidente é ser desleixado, negligente. Mas imprevidência com o quê? No caso, refere-se ao ambiente. Sabemos que nosso pensamento influencia na natureza do ambiente. Se são pensamentos salutares, influenciamos positivamente. Se os pensamentos são de natureza inferior, viciam o ambiente, tornando-o propício para o desenvolvimento tanto de “bacilos de natureza psíquica”, que atingem os encarnados, quanto para a propagação de ideias malsãs, que podem encontrar quem se proponha a colocá-las em prática. Notemos que a influência pode ser boa ou má, dependendo da nossa vontade e nossa previdência ou imprevidência.
- “(...) cultiva a vocação para o abismo.” – Essa expressão parece-nos indicar a tendência a destacar tragédia, pessimismo, desesperança, desânimo, em todas as situações. Cultivar a vocação para o abismo é buscar o lado negativo em cada ocorrência e permanecer nele, sem abertura para perceber a bondade e a previdência divina atuando ainda que de forma imediatamente compreensível para nós. A consequência do cultivo da vocação para o abismo é a criação e emissão de pensamentos de natureza perniciosa, que agravam as ocorrências negativas, gerando mais sofrimento e dificultando a transformação da situação por ações positivas, pela prece, pelo consolo, pelo foco na solução em vez do foco no problema.
- “(...) espírito de vigilância e defesa.” – O conhecido “vigiai e orai” que Jesus nos recomendou (leia mais a respeito na postagem “Vigiai e Orai”, neste Blog). Se não vigiamos nossos pensamentos, muitas vezes nos deixamos levar pela onda de pessimismo e revolta e se não temos a postos o espírito de defesa, buscando, a princípio, preservar a nossa paz interior, na certeza de que Deus é Pai Bondoso e Justo, acabamos por não lutar por manter o ambiente salutar a nossa volta. Orar para estar em sintonia com a Espiritualidade Superior, capaz de sanear o ambiente com fluidos positivos e manter a nossa harmonia e vigiar, para, no momento do contato com os pensamentos negativos, repeli-los naturalmente com a atmosfera positiva que desejamos nos envolva sempre.
E como transformar o ambiente espiritual, tornando-o saudável? Mais uma vez nos orienta o Codificador [3]:
“O meio é muito simples, porque depende da vontade do homem, que traz consigo o necessário preservativo. Os fluidos se combinam pela semelhança de suas naturezas; os dessemelhantes se repelem; há incompatibilidade entre os bons e os maus fluidos, como entre o óleo e a água.
Que se faz quando está viciado o ar? Procede-se ao seu saneamento, cuida-se de depurá-lo, destruindo o foco dos miasmas, expelindo os eflúvios malsãos, por meio de mais fortes correntes de ar salubre. À invasão, pois, dos maus fluidos, cumpre se oponham os fluidos bons e, como cada um tem no seu próprio perispírito uma fonte fluídica permanente, todos trazem consigo o remédio aplicável. Trata-se apenas de purificar essa fonte e de lhe dar qualidades tais, que se constitua para as más influências um repulsor, em vez de ser uma força atrativa.”
Foto: Carla Engel
A transformação do ambiente desfavorável é explicada por André Luiz e
pelo orientador Alexandre, no capítulo 5 da obra Missionários da Luz
[4]:
“Notava, agora, a diferenciação do ambiente.
Para nós outros, os desencarnados, a atmosfera interior impregnava-se de elementos balsâmicos, regeneradores. Cá fora, porém, o ar pesava. Acentuara-se-me, sobremaneira, a hipersensibilidade, diante das emanações grosseiras da rua. As lâmpadas elétricas semelhavam-se a globos pequeninos, de luz muito pobre, isolados em sombra espessa.
Aspirando as novas correntes de ar, observava a diferença indefinível. O oxigênio parecia tocado de magnetismo menos agradável.
Compreendi, uma vez mais, a sublimidade da oração e do serviço da Espiritualidade superior, na intimidade das criaturas.
A prece, a meditação elevada, o pensamento edificante, refundem a atmosfera, purificando-a.
O instrutor interrompeu-me as íntimas considerações, exclamando:
─ A modificação, evidentemente, é inexprimível. Entre as vibrações harmoniosas da paisagem interior, iluminada pela oração, e a via pública, repleta de emanações inferiores, há diferenças singulares. O pensamento elevado santifica a atmosfera em torno e possui propriedades elétricas que o homem comum está longe de imaginar. A rua, no entanto, é avelhantado repositório de vibrações antagônicas, em meio de sombrios materiais psíquicos e perigosas bactérias de varia da procedência, em vista de a maioria dos transeuntes lançar em circulação, incessantemente, não só as colônias imensas de micróbios diversos, mas também os maus pensamentos de toda ordem.”
São ensinamentos que merecem a nossa meditação e reflexão. Como temos
nos comportado em relação a emanação de pensamentos? Estaremos nós,
também, cultivando “vocação para o abismo”? Ou já despertamos,
esforçando-nos para “orar e vigiar”, mantendo o ambiente de prece e
pensamentos saudáveis, cultivando o hábito da prece no lar, em nosso
trabalho, em nosso ambiente de estudo e demais atividades, independente
da religião que professamos?
Estamos convidados a participar ativamente na construção e manutenção de
ambiente salutar, não só pelas atividades ecologicamente corretas às
quais nos engajamos, seja cuidando do lixo, respeitando a água, mas
também na emissão de pensamentos não poluentes, antes despoluidores da
atmosfera espiritual negativa. Devemos ser agentes de mudança em nossa
sociedade — mas de mudança para o bem, fazendo nosso melhor, debatendo o
que requerer mudanças, mas jamais alimentando problemas com pensamentos
e ações violentas. Nossos pensamentos e ações também são nossas obras. É
Jesus quem nos convida:
“Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” (Mateus 16:27)
Leia também, neste Blog, as postagens “Vigiai e Orai”, “Influência do Meio”, “Fluido Universal” e “Falsos Cristos, falsos profetas e seus seguidores”.
Bons estudos! Bons pensamentos!
Muita paz!
Carla e Hendrio
Continue seus estudos, ouvindo os programas “Missionários da Luz”, capítulos 28 e 29, na página da Rádio Rio de Janeiro: http://www.radioriodejaneiro.am.br/?page_id=48031
[1] KARDEC, Allan. “A Gênese”. Capítulo XIV, item 18, trecho.
[2] XAVIER, Francisco Cândido. “Missionários da Luz”. Pelo Espírito André Luiz. Capítulo 4, trecho.
[3] KARDEC, Allan. “A Gênese”. Capítulo XIV, item 21, trecho.
[4] XAVIER, Francisco Cândido. “Missionários da Luz”. Pelo Espírito André Luiz. Capítulo 5, trecho.
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