Na obra
“Loucura e Obsessão” [1], o médico Manoel Philomeno de Miranda questiona o Dr.
Bezerra de Menezes sobre o contexto que levou um menino, denominado Aderson, a
sofrer com o autismo. Em dado momento, Miranda pergunta ao Mentor:
“— E ele
se curará?”
Tal
questionamento chama a atenção acerca de o que consideramos cura. Sem uma noção
mais ampla acerca do que seja a cura, podemos enfrentar a desencarnação de um
ente querido e nos revoltar por tê-lo “perdido”, mesmo com nossas orações mais
fervorosas.
Primeiramente, não “perdemos” ninguém, pois pessoa alguma é propriedade nossa. Consideremos, também, que a pessoa desencarnada não está perdida — está sempre ao alcance e amparo de seu Espírito protetor. Agora, analisemos a questão do termo “cura”.
No idioma latim, cura significa “cuidado”, “atenção”, “zelo”. A expressão latina medici cura, utilizada pelo enciclopedista Aulus Celsus [2] no século I d.C., é traduzida por “cuidado médico”, começando aí a associação de “cura” com “tratamento da saúde”. O teólogo Leonardo Boff orienta [3] que cura, cuja forma latina mais antiga se escrevia coera, “era usada num contexto de relações de amor e de amizade. Expressava a atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de inquietação pela pessoa amada ou por um objeto de estimação”.
Atentando para o significado original de “cura”, pode-se concluir que “curar-se” significa “cuidar de si” — ou seja, darmos atenção à nossa essência. E qual a nossa essência: somos um corpo ou um Espírito temporariamente animando um corpo? Independente de sermos espiritualistas ou materialistas, todos somos Espíritos imortais, e não meros conjuntos de genes e tecidos que se agruparam “por acaso” e desaparecerão quando nosso corpo carnal não mais tiver vida.
Neste sentido, “curar-se” não é um cuidado que outros possam prestar a nós, mas sim uma atenção e evolução íntimas, de dentro para fora. Curar-se é, por meio de boas obras, orientadas ao Bem de nosso semelhante, fazermos as pazes com nossa consciência, local onde se encontram as Leis Divinas, conforme citado à questão 621 de “O Livro dos Espíritos” [4]. Cuidar bem de nós mesmos implica dar atenção à nossa evolução espiritual, em vez de um foco apenas material. É nos amarmos de fato, nos permitindo evoluir moral e intelectualmente. Sabendo nos amar e nos respeitar, aprendemos a amar e respeitar nossos semelhantes.
Uma só vida corporal, usualmente não muito mais do que 100 anos terrestres, não nos permite aprender tudo que há de lições morais e intelectuais na Terra. Como não há seres privilegiados na Criação, Deus nos oferta a bênção da pluralidade de existências corpóreas, uma série de “provas sem consulta”, ou com consulta limitada ao Plano Espiritual, para aferirmos a aquisição de conhecimentos morais e intelectuais cada vez mais elevados, aprendidos nas encarnações e nos períodos entre as mesmas.
Assim nos orientam os Espíritos da falange do Consolador, às questões 166, 166-a e 167:
Primeiramente, não “perdemos” ninguém, pois pessoa alguma é propriedade nossa. Consideremos, também, que a pessoa desencarnada não está perdida — está sempre ao alcance e amparo de seu Espírito protetor. Agora, analisemos a questão do termo “cura”.
No idioma latim, cura significa “cuidado”, “atenção”, “zelo”. A expressão latina medici cura, utilizada pelo enciclopedista Aulus Celsus [2] no século I d.C., é traduzida por “cuidado médico”, começando aí a associação de “cura” com “tratamento da saúde”. O teólogo Leonardo Boff orienta [3] que cura, cuja forma latina mais antiga se escrevia coera, “era usada num contexto de relações de amor e de amizade. Expressava a atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de inquietação pela pessoa amada ou por um objeto de estimação”.
Atentando para o significado original de “cura”, pode-se concluir que “curar-se” significa “cuidar de si” — ou seja, darmos atenção à nossa essência. E qual a nossa essência: somos um corpo ou um Espírito temporariamente animando um corpo? Independente de sermos espiritualistas ou materialistas, todos somos Espíritos imortais, e não meros conjuntos de genes e tecidos que se agruparam “por acaso” e desaparecerão quando nosso corpo carnal não mais tiver vida.
Neste sentido, “curar-se” não é um cuidado que outros possam prestar a nós, mas sim uma atenção e evolução íntimas, de dentro para fora. Curar-se é, por meio de boas obras, orientadas ao Bem de nosso semelhante, fazermos as pazes com nossa consciência, local onde se encontram as Leis Divinas, conforme citado à questão 621 de “O Livro dos Espíritos” [4]. Cuidar bem de nós mesmos implica dar atenção à nossa evolução espiritual, em vez de um foco apenas material. É nos amarmos de fato, nos permitindo evoluir moral e intelectualmente. Sabendo nos amar e nos respeitar, aprendemos a amar e respeitar nossos semelhantes.
Uma só vida corporal, usualmente não muito mais do que 100 anos terrestres, não nos permite aprender tudo que há de lições morais e intelectuais na Terra. Como não há seres privilegiados na Criação, Deus nos oferta a bênção da pluralidade de existências corpóreas, uma série de “provas sem consulta”, ou com consulta limitada ao Plano Espiritual, para aferirmos a aquisição de conhecimentos morais e intelectuais cada vez mais elevados, aprendidos nas encarnações e nos períodos entre as mesmas.
Assim nos orientam os Espíritos da falange do Consolador, às questões 166, 166-a e 167:
166.
Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar
de depurar-se?
“Sofrendo a prova de uma nova existência.”
a) — Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?
“Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”
167. Qual o fim objetivado com a reencarnação?
“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”
“Sofrendo a prova de uma nova existência.”
a) — Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?
“Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”
167. Qual o fim objetivado com a reencarnação?
“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”
A vitória sobre um mau hábito; a aquisição de uma virtude; a reparação de um erro e todas conquistas espirituais podem não ser visualizadas em sua plenitude no breve tempo de uma existência corpórea. Isso não significa que a evolução não exista ou não esteja em progresso.
Um
exemplo de processo de superação de uma ofensa recebida, ao longo de um de
cinco reencarnações e quatro períodos na erraticidade (tempo entre
reencarnações). Podemos superar dificuldades em muito menos etapas; só depende
de nós.
Plantando em bom terreno e cuidando bem da semente, em algumas décadas, teremos uma árvore. Não veremos de imediato, na semente, a árvore: precisamos cuidar da semeadura e aguardar, com fé e perseverança. Semeando valores nobres em todas as provas de nossas vidas, em algumas décadas, ou talvez em alguns séculos ou milênios (tempo muito pequeno em comparação aos ciclos de vida do Universo), teremos atingido patamares de maturidade espiritual que, de imediato ou em alguns poucos anos, não teríamos condições de vislumbrar ou valorizar.
O próprio Universo se transforma e evolui ao longo de trilhões de anos, em ciclos de expansão e retraimento. Somos parte dessa Criação, e também somos fadados a nos transformar e evoluir ao longo de incontáveis ciclos de idas e vindas a planos de matéria densa e sutil. Como lemos em “O Livro dos Espíritos” (por exemplo, às questões 194, 365 e 781), jamais regredimos. O que parece um retrocesso é, antes, um ponto de melhoria antes desconhecido, ou que não tínhamos disposição e/ou maturidade para tratar.
Assim, sempre é tempo de recomeçar, aprender, evoluir. Instruídos à questão 195 de “O Livro dos Espíritos”, compreendemos ser um erro adiar para outro tempo o que nos caiba fazer agora. Mesmo assim, em qualquer época de nossas vidas, temos condições de, ao desejarmos algo aprender ou ao constatarmos um erro cometido, iniciar nosso plano de curto, médio e longo prazo para essa apreender essa lição.
Vejamos algumas lições do Espírito São Luís acerca do arrependimento, à questão 1007 de “O Livro dos Espíritos” e na obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
“Haverá
Espíritos que nunca se arrependem?
‘Há os de arrependimento muito tardio; porém, pretender-se que nunca se melhorarão fora negar a lei do progresso e dizer que a criança não pode tornar-se homem.’” [4]
“Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.” [5]
‘Há os de arrependimento muito tardio; porém, pretender-se que nunca se melhorarão fora negar a lei do progresso e dizer que a criança não pode tornar-se homem.’” [4]
“Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.” [5]
A constatação de um ponto a melhorar, e o consequente arrependimento por um proceder inadequado, são os primeiros passos para nossa evolução. Contudo, apenas o arrependimento, em si, não soluciona a questão. Por mais sincero seja o arrependimento, e por mais intensa a fé abraçada, se não houver obras, ou seja, ações objetivas em prol do Bem de nosso semelhante, motivadas pelo aprendizado na nova atitude, não consolidaremos nosso aprendizado e nosso amadurecimento. Lemos à questão 1002 de “O Livro dos Espíritos”:
“Que
deve fazer aquele que, em artigo de morte, reconhece suas faltas, quando já não
tem tempo de as reparar? Basta-lhe nesse caso arrepender-se?
‘O arrependimento lhe apressa a reabilitação, mas não o absolve. Diante dele não se desdobra o futuro, que jamais se lhe tranca?’”
‘O arrependimento lhe apressa a reabilitação, mas não o absolve. Diante dele não se desdobra o futuro, que jamais se lhe tranca?’”
O que a constatação de um erro, cometido por nós ou contra nós, não pode trazer, são as angustiantes e improdutivas emoções do remorso e da revolta. Essas são verdadeiras barreiras à nossa evolução, por impedirem, respectivamente, de perdoarmos a nós mesmos e ao nosso semelhante. Novamente, é uma questão de bem cuidar, ou seja, de curar a nós e o próximo.
Em dois trechos da brilhante obra “Evolução em Dois Mundos”, André Luiz ilustra o severo impacto negativo que o remorso traz ao nosso mundo íntimo:
“Obliterados
os núcleos energéticos da alma, capazes de conduzi-la às sensações de euforia e
elevação, entendimento e beleza, precipita-se a mente, pelo excesso da taxa de
remorso nos fulcros da memória, na dor do arrependimento a que se encarcera por
automatismo, conforme os princípios de responsabilidade a se lhe delinearem no
ser, plasmando com os seus próprios pensamentos as telas temporárias, mas por
vezes de longuíssima duração, em que contempla, incessantemente, por reflexão
mecânica, o fruto amargo de suas próprias obras, até que esgote os resíduos das
culpas esposadas ou receba caridosa intervenção dos agentes do amor divino,
que, habitualmente, lhe oferecem o preparo adequado para a reencarnação
necessária, pela qual retomará ao aprendizado prático das lições em que faliu.”
[6]
“A recordação dessa ou daquela falta grave, mormente daquelas que jazem recalcadas no espírito, sem que o desabafo e a corrigenda funcionem por válvulas de alívio às chagas ocultas do arrependimento, cria na mente um estado anômalo que podemos classificar de ‘zona de remorso’, em torno da qual a onda viva e contínua do pensamento passa a enovelar-se em circuito fechado sobre si mesma, com reflexo permanente na parte do veículo fisiopsicossomático ligada à lembrança das pessoas e circunstâncias associadas ao erro de nossa autoria.
(...)
É assim que o remorso provoca distonias diversas em nossas forças recônditas, desarticulando as sinergias do corpo espiritual, criando predisposições mórbidas para essa ou aquela enfermidade, entendendo-se, ainda, que essas desarmonias são, algumas vezes, singularmente agravadas pelo assédio vindicativo dos seres a quem ferimos, quando imanizados a nós em processos de obsessão. Todavia, ainda mesmo quando sejamos perdoados pelas vítimas de nossa insânia, detemos conosco os resíduos mentais da culpa, qual depósito de lodo no fundo de calma piscina, e que, um dia, virão à tona de nossa existência, para a necessária expunção, à medida que se nos acentue o devotamento à higiene moral.” [7]
“A recordação dessa ou daquela falta grave, mormente daquelas que jazem recalcadas no espírito, sem que o desabafo e a corrigenda funcionem por válvulas de alívio às chagas ocultas do arrependimento, cria na mente um estado anômalo que podemos classificar de ‘zona de remorso’, em torno da qual a onda viva e contínua do pensamento passa a enovelar-se em circuito fechado sobre si mesma, com reflexo permanente na parte do veículo fisiopsicossomático ligada à lembrança das pessoas e circunstâncias associadas ao erro de nossa autoria.
(...)
É assim que o remorso provoca distonias diversas em nossas forças recônditas, desarticulando as sinergias do corpo espiritual, criando predisposições mórbidas para essa ou aquela enfermidade, entendendo-se, ainda, que essas desarmonias são, algumas vezes, singularmente agravadas pelo assédio vindicativo dos seres a quem ferimos, quando imanizados a nós em processos de obsessão. Todavia, ainda mesmo quando sejamos perdoados pelas vítimas de nossa insânia, detemos conosco os resíduos mentais da culpa, qual depósito de lodo no fundo de calma piscina, e que, um dia, virão à tona de nossa existência, para a necessária expunção, à medida que se nos acentue o devotamento à higiene moral.” [7]
Preciosos relatos de autores espirituais nos informam sobre o lento e gradual processo de evolução, para aprendizado e reparação de erros, que se opera ao longo de diversos processos reencarnatórios. Além da obra “Evolução em Dois Mundos”, acima citada, relacionamos, a título de exemplos, as obras “Entre a Terra e o Céu” e “Memórias de um Suicida”, referidas na postagem “Considerações sobre o Aborto Espontâneo”, neste blog.
A lentidão de tais processos de reforma íntima não se deve a nenhuma morosidade do Plano Espiritual, mas às nossas próprias limitações em estudar, apreender e aplicar novas lições, especialmente no campo da evolução moral. Dispomos de muitos bons exemplos de dedicação ao próximo para seguir e acelerar nossa melhoria. Allan Kardec, à questão 625 de “O Livro dos Espíritos”, pergunta qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo, recebendo a resposta mais breve e, talvez, mais profunda da referida obra: Jesus. Não se trata de nenhum ato de fanatismo, mas de fé raciocinada. Exemplificando a caridade incondicional e o desapego à vida material, Jesus nos apresenta um roteiro lógico e exequível de amadurecimento espiritual. Relembrando o versículo 06 do Salmo 82 e indo além, Jesus nos orienta:
“Não está
escrito na vossa Lei: Eu disse que vós sois deuses?” (João 10:34)
“Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, esse fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores (...)” (João 14:12)
“Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, esse fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores (...)” (João 14:12)
Podemos, agora, compreender melhor por que Bezerra de Menezes respondeu à questão citada ao início desta postagem, no livro “Loucura e Obsessão”, nos seguintes termos:
“— Os
desígnios de Deus — respondeu, reflexionando — são inescrutáveis. Caso não
recupere todas as suas funções, para a atual existência, melhorará as condições
para os próximos cometimentos. Deveremos examinar a Vida sob o ponto de vista
global e não angular, de uma única experiência física, como a atual. Da mesma
forma que vamos buscar as origens dos males de hoje no passado do Espírito, é
justo que pensemos na sua felicidade em termos de amanhã, considerando o presente
como sendo uma ponte entre os dois períodos e não a situação única a vivenciar.
Destas atitudes resulta o porvir com todas as suas implicações. Assim, lancemos
para amanhã os resultados do esforço de agora.” [1]
Leia mais no endereço: http://licoesdosespiritos.blogspot.com/2011/01/evolucao-espiritual-de-longo-prazo.html#ixzz4BbPCz6Nc
Nenhum comentário:
Postar um comentário